quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Alcântara em 2020


Depois de aproximadamente 25 anos eu fui a Alcântara. Óbvio que minhas memórias de 25 anos atrás não era nada de se levar em consideração, mas Alcântara colaborou muito mudando pouco, aliás o grande charme de Alcântara é ficar a mesma apesar do tempo, das pessoas e das mudanças.

Tanto no passado como agora os pontos a se visitar, as experiências recomendadas são as mesmas. Então fui sem muitas expectativas. Fui da forma tradicional - de barco ou catamarã - pois há a opção de ir de ferryboat e levar um carro que torna tudo mais rápido e curto. Ir de barco a Alcântara implica em enfrentar a travessia da baía de São Marcos e se divertir com a força das ondas ou ficar nauseado pois o barco balança muito. Ir de catamarã, multiplique o balanço e a certeza de ser respingado da água do mar.
 
Já em terra, a principal mudança no meu ponto de vista foi o Centro de Lançamento de Alcântara - CLA que trouxe pesquisadores e cientistas e todo o staff necessário para lançamento de foguetes. Infelizmente o Programa Espacial Brasileiro fracassou tragicamente e nunca mais se reergueu tanto pela tragédia da explosão da plataforma de lançamento que vitimou os principais cérebros da tecnologia brasileira e deixou nos perdidos em tantas incertezas de como seguir. 
 
Supunha eu que a base faria muita diferença em Alcântara, infelizmente não fez. A base está relativamente distante da cidade, há somente a Casa de Cultura Aeroespacial - um local de exposição que remete ao CLA na cidade, e não é permitida visitas ao CLA. 
 
Casa de Cultura Aeroespacial

 
 
Fora o CLA, o que sobra é o de sempre para se ver. Então indo em um único dia é possível visitar:
 
Ruas de Alcântara 



 
Praias de Alcântara - Ilha do Livramento ao fundo
 
Praia de Itatinga
 
Praça da Matriz







A iguaria local - Doce de Espécie
 
Igreja do Desterro


Aproveitei a viagem de retorno para filmar um pouco do mar agitado e sentir tanto o vento quanto as ondas. Então sobrou o vídeo abaixo.
 

sábado, 1 de agosto de 2020

Jogos da quarentena

Em 2020, devido a pandemia, mesmo tendo que trabalhar remotamente ainda assim sobrava mais tempo do que habitualmente. Atividades externas foram diminuídas até o mínimo possível e com a suspensão de aulas escolares foi necessário buscar novas formas de se ocupar. Então pesquisei novos jogos para termos alternativas para se entreter em família.
Eu gostaria de ter experimentado "Colonizadores de Catan", mas na minha pesquisa achei o jogo muito caro. Investir muito dinheiro eu algo que talvez eu não gostasse não é algo razoável. Aliás o problema que tenho enfrentado é principalmente encontrar quem jogue pois a concorrência de jogos eletrônicos é muito forte. Então limitei minha busca em jogos mais baratos que fosse possível jogar a maior quantidade de jogadores possível.
A melhor opção que para aquisição foi a loja virtual da Bravo Jogos. Lá selecionei o seguintes jogos: Captive; Cortex 2; História de Pescador; Zumbi Tsunami; Taco Gato Cabra Queijo Pizza; Saboteur e Pega em 6! Desses eu gostaria de comentar os seguintes:

1. Captive - É um livro jogo na forma de HQ. No início você seleciona um conjunto de características para seu personagem e à medida que vai lendo você vai fazendo escolhas que promete desfechos variados conforme as muitas escolhas que foram feitas. Cada leitura e conjunto de escolhas lhe conduz para resultados diferentes de modo que uma "leitura" nunca é igual a outra. Há vários títulos no mesmo conceito com diferentes histórias e cenários. Não é algo novo mas somente agora tomei conhecimento e aproveitei para conhecer. Infelizmente não completei a leitura de modo a emitir a opinião.





2. Zumbi Tsunami - é um jogo para 3 a 6 jogadores. O jogo é rápido e o objetivo é obter o máximo de zumbis (pequenos cubos verdes). Uma partida se resolve em três rodadas pela pista onde o tsunami se desenrola. Nessa pista há 6 slots em que ocorrem os eventos que farão os jogadores ganhar, perder, atacar e defender-se e manter seus zumbis ou seus civis que viram zumbis ao fim das rodadas. Juntos dos eventos há 2 categorias de cartas que dão mais dinâmica para ganho ou perda de zumbis. E assim sem levar um tempo excessivo a partida tende a durar no máximo 30 minutos.




3. Taco Gato Cabra Queijo Pizza é um jogo de cartas para 2 a 8 jogadores e a partida não tem tempo previsto pois o objetivo é descartas todas as cartas porém há muitos eventos em que o jogador pode receber cartas tanto por ação ou por omissão. O jogo é rápido e é justamente a rapidez junto com a incerteza do que precisa ser feito a seguir é que faz toda a graça do jogo.








4. Saboteur é um dos jogos que mais gostei. Podem jogar de 3 a 10 jogadores. No jogo os jogadores são mineiros ou sabotadores. O objetivo é coletar ouro, só que os mineiros trabalham cooperativamente e dividem o outro no fim da rodada. Já os sabotadores dissimulam que o ouro não seja encontrado, os sabotadores que tiverem sucesso na rodada recebem mais ouro no final da rodada. O jogo é rápido e acaba em 3 rodadas. Quem tiver mais ouro ao fim das 3 rodadas é o vencedor.






5. Pega em 6! De todos o que mais gostei foi Pega em 6! Podem jogar de 2 a 10 pessoas com o objetivo de fazer o mínimo de pontos possível na quantidade de rodadas que o grupo de jogadores definir. O jogo é completamente imprevisível e não há uma estratégia vencedora definitiva. O concurso dos lances desmonta  as estratégias e no fim o vencedora será uma surpresa. O jogo foi premiado várias vezes durante décadas e vale a pena conhecer.

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Nuvem de palavras

Desde 2002 que faço uma lista de todos os livros que li. Agora a lista está até razoável para os padrões nacionais, porém, reconheço, aquém de um leitor intenso, consistente e de peso. Então antes de entrar nos detalhes da lista vão algumas explicações.

1. Minhas leituras não seguem um padrão consciente, ela é resultado principalmente da literatura que me é mais acessível.
2. Comecei a consumir audiolivros a partir do fim de 2011, 2012 para todos os fins. Isto aumentou razoavelmente a quantidade de títulos consumidos ao longo dos anos.
3. A partir de 2019 estão incluídos mangás, histórias em quadrinhos e/ou graphic novels.
4. A lista de autores teve que ser uniformizada para que o nome de um autor seja escrito sempre da mesma forma.
5. Obras com mais de um autor, tiveram seu segundo autor limado, ficando somente o autor principal.
6. Lista engloba livros técnicos, ficção, não-ficção, etc.
7. Obras de vários autores (antologias) não estão contabilizadas (Bíblia entre elas) nem obras de referência, manuais, guias e similares. Também estão fora obras que são assinadas por organizações.
8. Obras lidas mais de uma vez (sim houve algumas) são contados na quantidade de vezes que foram lidas.
9. Para que a nuvem de palavras resultante tivesse os nomes corretos dos autores retirei os espaços dos seus nomes, então "Machado de Assis" está grafado como "MachadodeAssis".

A partir da lista então testei com sucesso e satisfação o Wordle para criar uma nuvem de palavras. Há versão online e uma versão para download. O uso é muito simples, é suficiente incluir o texto de autores e gerar a imagem. A aplicação cria várias imagens, alternando estilos, cores, fundos de modo que é possível resumir suas leituras em uma imagem.

Ressalto que houve somente 4 autores cujas obras foram lidos mais que 5 vezes. Foram Dan Brown e George R. R. Martin com 5 obras de cada. Em ambos os casos tive acesso aos audiobooks. De George R. R. Martin foram os cinco livros das Guerras dos Tronos. Por 8 vezes li livros de C. S. Lewis, todas todas as leituras foi das Crônicas de Nárnia. E por 10 vezes li livros de Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins, todos da série "Deixados para Trás". Apesar de tantas leituras acho a série ruim e por isso nunca fiz resumo dela. A leitura da série foi ocasionada simplesmente pela facilidade de acesso.

Eis alguns exemplos das nuvens de palavras geradas a partir da lista de autores desses 19 anos.








terça-feira, 9 de junho de 2020

Shakespeare

Por um acaso da vida eu tentei lembrar quantas obras de Shakespeare eu conhecia (ou supunha conhecer). Contando obras originais, obras derivadas (obras adaptadas) e/ou cenas repetidas cuja inspiração é de uma obra original de Shakespeare deu um número bom.

Levando-se em conta que li somente uma obra original de Shakespeare (Romeu e Julieta), lembrar de tal quantidade só revela um fato: Shakespeare está tão difundido na cultura atual, tão adaptado, tão entranhado em mentes de criadores de conteúdo, nas artes, música, teatro, TV e cinema que é difícil de negar o fato de que William Shakespeare ser considerado o maior escritor de todos os tempos.


Não pretendo abordar a vida e obra do dramaturgo inglês que viveu de 1564 a 1616 e deixou 38 peças, 154 sonetos e 2 poemas longos. Há biografias, sites, livros, documentários sobre a vida de Shakespeare e suas obras. Como um "não leitor de Shakespeare" eu não tenho sequer credenciais para afirmar algo. Mas tenho que constatar o parágrafo anterior ao atribuir a Shakespeare o epíteto de maior escritor da atualidade. Meu critério principal é raso - a recorrência de suas obras em minha memória decorrente de um nível de exposição longo e contínuo  - mas estudiosos repetem essa asseveração e eu como um leigo embasbacado só posso corroborar. No final do post há algumas listas de onde pesquisei.


No que diz respeito a mim, eu basicamente me peguei pensando sobre escritores e suas obras. As obras de Shakespeare estavam lá em número considerável. Óbvio que li outros autores, óbvio que li outras obras mais vezes do que as de Shakespeare mas estas outras eu as li intencionalmente enquanto que as obras de Shakespeare vieram a mim por osmose literária, daí minha conclusão pela sua grandeza.

A minha lista é modesta mas não consigo lembrar tantos livros e referências de um único escritor não lido quanto lembro de Shakespeare. Sendo que essas lembranças vieram sem que as tenha buscado intencionalmente, vieram por estarem acessíveis, por serem repetidas, referenciadas em muitas outras obras. Das obras não lidas, lembrei das seguintes obras:
  • Megera domada;
  • Hamlet;
  • O mercador de Veneza;
  • Sonho de uma noite de verão;
  • Otelo;
  • Rei Lear;
  • MacBeth.
Para cada peça listada acima, o IMDB, que o maior site sobre cinema da internet, aponta pelo menos 200 referências de filmes, documentários, curtas, séries. Pode haver mais pois 200 referências é o limite para a busca no site do IMDB.

Há frases corriqueiras que repetimos no nosso dia a dia  e que são de obras de Shakespeare tais como:

“Há algo de podre no reino da Dinamarca”
“Ser ou não, eis a questão”
“Há mais coisas entre os céus e a terra do que julga nossa vã filosofia”
“Aprendi que devíamos ser gratos a Deus por não nos dar tudo que lhe pedimos”
“A sabedoria e a ignorância se transmitem como doenças; daí a necessidade de se saber escolher as companhias”
“Os covardes morrem muitas vezes antes de sua morte; os valentes morrem uma única vez.”
“A vida é uma simples sombra que passa (...); é uma história contada por um idiota, cheia de ruído e de furor e que nada significa”

Segundo a Wikipedia, Shakespeare era respeitado enquanto estava vivo, porém se tornou grande, unânime, atemporal somente no século XIX quando redescoberto seguidamente pela academia quanto pelas audiências e no século XX sua fama se tornou mundial. Esse fenômeno de como obras e personalidades do passado são redescobertas e catapultadas ao conhecimento e aplauso das sociedades é algo muito curioso para mim e pretendo continuar explorando.

Assim sendo é inescapável que terei que ler alguma obra original do autor.


Links
https://www.bestcollegesonline.com/blog/25-writers-who-changed-the-world/
https://www.digitalbook.io/blog/top-10-influential-writers-that-changed-the-world/
https://www.quora.com/Who-was-the-most-influential-author-in-history
https://www.ranker.com/list/best-writers-of-all-time/ranker-books


sexta-feira, 10 de abril de 2020

Um lindo dia na vizinhança aka "A beutiful day in the neighborhood"

Eu assisti a "Um lindo dia na vizinhança" (título original: A beautiful day in the neighborhood) sem ler nenhuma sinopse e a mim parecia ser um filme bem mamão com açúcar. Porém descobri que o filme é baseado em fatos reais. E me chamou muito atenção o personagem Fred Rogers representado por Tom Hanks. Fui especialmente surpreendido pelo Sr Fred Rogers que existiu de verdade. Sr Rogers ou Mr. Rogers como era conhecido nasceu em 1928 e faleceu aos 74 anos em 2003 devido a um câncer de estômago. 
No filme Mr Rogers me surpreende por coisas simples:
1. Disciplina - Mesmo sendo uma celebridade, ele segue uma rotina que permitia trabalhar, exercitar-se e manter relações pessoais plenas.
2. Mindfulness (atenção completa) - Ao falar com as pessoas Mr Rogers sempre se dirigia total e completamente a elas, dialogando, olhando no olhos e falando pausamente, não havia alterações mesmo quando ele era confrontado e as pessoas discordavam dele.
3. Sempre perguntava o nome, telefone das pessoas, marcava compromissos e cumpria os horários mesmo que sejam compromissos de tempo muito curto. Além disso, Mr Rogers sempre informava que ia orar pela pessoa e parecia sinceramente comprometido com essa tarefa.
4. Meditava, lia a Bíblia e orava por sua lista de pessoas e objetivos e também fazia natação diariamente.

Parece algo bem trivial não ? Eu me admiro dessas práticas porque eu creio que elas sejam boas e eu mesmo não consigo executá-las de modo contínuo e dedicado como o Mr Rogers. Nele parecia ser tudo muito natural.

O filme conta a história do jornalista, casado e pai de uma criança pequena chamando de Lloyd Vogel, representado por Matthew Rhys. O personagem Lloyd Vogel representa o jornalista Tom Junod. Lloyd Vogel (Tom Junod) foi escalado pela Esquire para fazer o perfil do Fred Rogers. A revista queria contar a história dos heróis americanos e começaria por Fred Rogers. Vogel era um jornalista especialmente conhecido pelo seu amargor nos seus artigos e por mais virtudes que Mr Rogers tivesse ele iria escavar todos os defeitos e retirar todos os esqueletos do guarda-roupa. 

Entretanto o filme tem um plot twist. Lloyd Vogel tem um grande problema familiar, ele tem sérios problemas de relacionamento com o seu pai, que está doente de uma doença fatal. Durante as entrevistas com Mr Rogers, este além de falar de si, do seu trabalho, apresentar sua esposa, ele também se propõe a entrar na vida Vogel, interessando-se por sua história, conflitos, problemas no casamento ao ponto de Vogel sucumbir, baixar a guarda, reconciliar-se com seu pai e mudar sua vida. 

Óbvio que depois de um milagre desses o artigo da Esquire ficou soberbo. Para ler o artigo de Junod sobre Mr Rogers clique aqui (em inglês)

Achei excelente o filme e pesquisei mais sobre Mr Rogers. Descobri que:
  • a) Ele teve 2 filhos (que não aparecem no filme);
  • b) Que ele era ministro presbiteriano;
  • c) Era primo de Tom Hanks;
  • d) Era compositor, pianista, cantor, escritor, roteirista e titereiro de mão cheia;
  • e) Seu principal programa o Mr Rogers' Neighborhood ou simplesmente Neighborhood ficou de 1968 a 2001 (interrompido entre 1974 e 1979) sendo veiculado e depois de 2001 repetido pela PBS até 2016.
  • f) Fred Rogers respondeu pessoalmente todas as cartas enviadas a ele pelos espectadores. E quando o volume aumentou ele descolou duas pessoas para uma equipe que respondia a todas as cartas, mas ele pessoalmente leu e assinou cada uma delas.
 
O programa Neighborhood de Mr Rogers era sem igual pois atingia o público pré-escolar e tratava de temas que nenhum outro programa jamais tratou de modo tão direcionado e contínuo. O programa enfatizava as necessidades sociais e emocionais de crianças pequenas. Enquanto Vila Sésamo se concentrou nas habilidades de preparação para a escola, o Neighboorhood se concentrava no desenvolvimento da psique e dos sentimentos da criança e no senso de raciocínio moral e ético. Segundo o Washington Post, Rogers ensinou crianças pequenas sobre "civilidade, tolerância, compartilhamento e autoestima em um tom tranquilizador". Isso tudo em uma cadência pausada que para os tempos de hoje beirava o tédio, mas que era perfeita para seu público. Ele abordou tópicos difíceis, como a morte de um animal de estimação em família, a rivalidade entre irmãos, a adição de um recém-nascido em uma família, a mudança e a matrícula em uma nova escola e o divórcio.


Links e referências:
Artigo da Esquire - Can you say... a hero ? - https://www.esquire.com/entertainment/tv/a27134/can-you-say-hero-esq1198/

Artigo da Hollywood Reporter sobre o filme comparando atores e personagens - https://www.hollywoodreporter.com/lists/beautiful-day-neighborhood-true-story-how-accurate-are-characters-1258012/item/abd-maryann-plunkett-1258022

Artigo da Wikipedia sobre Fred Rogers - https://pt.wikipedia.org/wiki/Fred_Rogers
 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Chernobyl - com spoilers


Resultado de imagem para imagens chernobyl hboEu realmente fiquei impressionado com Chernobyl (2019), da HBO (criada e escrita por Craig Mazin e direção de Johan Renck). Mesmo tendo gostado muito de série como Cosmos, True Detective e Game of Thrones, Chernobyl é especial porque aborda uma tragédia dos nossos tempos e apresenta como nosso mundo perde ou paga muito caro quando o ideário oficial é colocado acima de tudo. Aqui apresento as minhas impressões do acidente e da série com algumas informações que talvez que você se importar com spoilers fique avisado que há alguns no texto.


A série aborda com riqueza de detalhes impressionante os eventos que concorreram para o desastre atômico em Chernobyl - Ucrânia em 26 de abril de 1986. A sequência de erros, a cadeia de comando que funcionava - não para evitar o acidente e sim para provocá-lo. A série mostra com requinte de imagens e sons o susto quanto ao acidente, a incredulidade das pessoas envolvidas na operação da usina e a falta de ação sobre o que estava ocorrendo.

A série mostra o despreparo para sequer entender o acidente e tal despreparo foi originado da arrogância técnica e superioridade que a URSS tinha sobre si própria. É óbvio que este não foi a primeira grande mancada soviética, mas como em todas as outras o acobertamento dos fatos, a guerra de informação se impunha no sentido sempre de passar uma imagem positiva do governo soviético ainda que isso custasse muito dinheiro e vidas humanas.

Para se ter um vislumbre da megalomania soviética que não entendeu o que estava ocorrendo os sinais de que havia ocorrido um acidente nuclear foram divulgados pela Suécia que detectou a alta taxa de radiação vinda da região da Ucrânia. 

A série passa o entendimento que a documentação técnica sobre o reator era considerada sigilosa pelo que a KGB censurava e restringia o acesso de cientistas a documentação sob o pretexto de dificultar espionagem.

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A explosão deixou o reator exposto
A usina de Chernobyl ficava na verdade em Pripyat (distante 20 km da cidade de Chernobyl). Tinha 4 reatores do tipo RMBK-1000 que a época da construção da usina já eram considerados obsoletos. Esses reatores foram desenvolvidos com uma tecnologia de 30 anos antes, mas eram simples e claro mais baratos. 

Assim os velhos RMBK-1000 eram tidos como infalíveis porém possuíam um erro que ocorria em determinadas condições. Então em um teste de rotina as condições foram satisfeitas e o reator explodiu matando de imediato os operadores mais próximos. A explosão foi gigantesca, o núcleo do reator foi exposto pois a usina não tinha uma contenção básica que é requerido em usinas nucleares - uma cúpula de aço e concreto assim a explosão lançou uma quantidade enorme de material radioativo na atmosfera, ocasionando a morte imediata de alguns, gradual de operadores e moradores de Prypiat. Com o incêndio os bombeiros foram chamados para a morte - todos eles morreram por radiação ao longo de semanas.

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Mineiros chamados para conter o desastre
A conta de pessoas sacrificadas só cresceu pois o núcleo precisava ser selado. Então foram convocados mineiros, construtores e pilotos para lançarem areia e outros materiais de modo a cobrir o reator. Essas pessoas foram chamadas a colaborar por patriotismo e promessas de salários bem mais altos que o que se costumava pagar. A grande maioria não sobreviveu. Somente 36 horas após o acidente a população de Prypiat foi evacuada e uma área de 30 km de raio foi criada. A conta de mortes é incerta, há estimativas que até 2006 morreram entre 4 mil e 90 mil pessoas, tal amplitude aponta claramente para incerteza com relação aos número de mortos.

As consequências econômicas e políticas do desastre foram catastróficas. Houve contaminação de 23% da Bielorússia, 7% da Ucrânia e 1,5% da Rússia, essas áreas tiveram que ser abandonadas pela contaminação. Há uma estimativa do impacto financeiro pelo desastre entre 1986 e 2016 de 235 bilhões de dólares só na Bielorússia. A área de Chernobyl permanecerá contaminada e inabitada por 20 mil anos. Todos os países envolvidos diretamente tiveram gastos expressivos com saúde e contenção dos impactos. Do ponto de vista político o desastre contribuiu para a desintegração da URSS que vinha em crise desde os anos 70 e com a fracassada guerra do Afeganistão (1979-1989).

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O terror é tônica do desastre
Na série, porém, a história do desastre é tão cruenta que muitas vezes há um clima de filme de terror. Como espectador por várias vezes fiquei na expectativa que surgiria um monstro em algum momento, mas é somente o clima no qual a história se desenrola com tensão, terror e medo, porém nada mais é do que a descrição dos fatos do quais o escritor e diretor tentaram representar o mais preciso possível.

Ao final é apresentado o que ocorreu com os principais personagens da história. 
1. O físico russo Valery Legasov (Jarred Harris), principal responsável pela contenção do desastre suicida-se 2 anos após o desastre. Na série o suicídio de Legasov é o estopim que desencadeia as ações para divulgação do que realmente ocorreu na usina. 
2. A física Ulana Khomyuk (Emily Watson) é uma personagem fictícia que fez o papel de muitos cientistas que trabalharam para ajudar na solução do acidente. 
3. O político ucraniano Boris Shcherbina (Stellan Skarsgård), foi o político designado para conter o desastre junto com Legasov, morreu em agosto de 1990. 
4. O engenheiro ucraniano Anatoly Dyatlov (Paul Ritter) que supervisionou o teste que causou o acidente. Em 1987, Dyatlov foi levado a julgamento por falha em seguir regulações de segurança que levaram ao acidente e foi julgado culpado por negligência e sentenciado a dez anos de prisão. Ele foi anistiado e solto três anos depois. Dyatlov mais tarde escreveu um livro onde ele culpou falhas técnicas (como mal design da planta do reator) como a causa do acidente, ao invés de erro humano. Dyatlov morreu de insuficiência cardíaca, como consequência do envenenamento radioativo, em 1995.
5. Viktor Bryukhanov (Con O'Neill), era o gerente da usina, foi preso em agosto de 1986, passou um ano em uma prisão de Kiev aguardando julgamento; foi julgado e considerado culpado de violação grave dos regulamentos de segurança, condenado a 10 anos em um campo de trabalho mais cinco anos consecutivos por abuso de poder. Porém ficou somente 5 anos preso. Morreu em 2018 de razões não ligadas a radiação.
6. Nikolai Fomin (Adrian Rawlins), era o engenheiro chefe em Chernobyl, iria ser julgado junto com Dyatlov e Bryukhanov porém tentou suicídio e surto mental antes do julgamento sendo internado em uma clínica psiquiátrica.

Apesar dos que contribuíram para o desastre, várias pessoas se portaram com coragem, heroísmo e até com o sacrifício de suas próprias vidas tiveram o reconhecimento pelos seus atos. Há uma lista neste link (Known Deaths due to Trauma and Radiation Sickness) com 31 pessoas das quais 28 foram laureadas com medalhas reconhecendo seus atos de coragem. 

Por fim a série fecha no seu 6º episódio asseverando que a verdade é a principal vítima diária e contínua eventos como esses. A verdade é silenciada, sacrificada, falsificada continuamente até que o desastre explode tanto pela desídia dos envolvidos.

   
Referências:
ALEKSIEVITCH, Svetlana. Vozes de Tchernóbil: a história oral do desastre nuclear.
Nova cúpula de segurança para reator de Chernobyl é inaugurada. Para acessar, clique aqui.
Chernobyl accident and its consequences. Para acessar, clique aqui [em inglês].
Chernobyl disaster: why are the consequences still observed and why is the international assistance still critical? Para acessar, clique aqui [em inglês].
Chernobyl Nuclear Accident. Para acessar, clique aqui [em inglês].
The Chernobyl accident. Para acessar, clique aqui [em inglês].

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Ateus avisam: o declínio do Cristianismo está prejudicando a sociedade


Texto originalmente publicado em inglês no site da LifeSiteNews neste link  por Jonathon Van Maren

Achei muito interessante o texto e o publico traduzido para o português.

4 de novembro de 2019 - Apenas alguns anos atrás, o movimento agressivo “Novo Ateísmo” estava em marcha, com lutadores retóricos como Christopher Hitchens e biólogos renomados como Richard Dawkins liderando a acusação contra a religião e os últimos vestígios da fé cristã no Ocidente. A Hitchens em sua famosa frase declarou , "A religião envenena tudo" e só poderia ser considerada, na melhor das hipóteses, a "primeira e pior" tentativa da humanidade de resolver questões existenciais. Se essas superstições cobertas de teias de aranha pudessem ser destruídas pelos ventos refrescantes da razão e do Iluminismo, uma sociedade fundamentalmente melhor surgiria das cinzas - ou assim foi o que ele pensou.

Mas, à medida que o Cristianismo se desvanece cada vez mais no espelho retrovisor de nossa civilização, muitos ateus inteligentes estão começando a perceber que o Iluminismo pode ter alcançado sucesso apenas porque exerceu influência sobre a cultura cristã. Em uma sociedade verdadeiramente secular, na qual homens e mulheres vivem suas vidas sob céus vazios e esperam ser reciclados, em vez de ressuscitados, não há fundamento moral sólido para o bem e o mal. Antiteístas como Christopher Hitchens zombavam e insultavam a ideia de que a humanidade precisava de Deus para saber o que é certo ou errado, mas mal passamos duas gerações de nossa Grande Secularização e nem mais distinguimos o homem da mulher.


Seria interessante saber como o falecido Hitchens teria reagido às insanidades que proliferaram desde sua morte e se ele perceberia, como alguns de seus amigos igualmente sem Deus, que não é necessário achar o cristianismo crível para perceber que é necessário. Douglas Murray, que ocasionalmente se intitulou "ateu cristão", discutiu publicamente com o colega de Hitchens, "Cavaleiro do Apocalipse" Sam Harris, sobre se uma sociedade baseada nos valores do Iluminismo é possível sem o Cristianismo. Harris espera que essa sociedade seja possível. Murray é simpático, mas cético.

Murray admitiu cada vez mais que ele acredita que o projeto ateu é um projeto sem esperança. Quando ele se juntou a mim no meu programa recentemente para discutir seu último livro "The Madness of Crowds", ele reiterou que acredita que, na ausência da capacidade dos secularistas de elaborar a ética em questões fundamentais, como a santidade da vida. Podemos ser forçados a reconhecer que voltar à fé é a melhor opção disponível para nós. Há uma possibilidade muito real, observou ele, de que nosso conceito moderno de direitos humanos, baseado em valores judaico-cristãos, possa muito bem sobreviver ao cristianismo por apenas alguns anos. Isolada da fonte, nossa concepção de direitos humanos pode murchar e morrer muito rapidamente, deixando-nos nos remexendo em uma escuridão espessa e impenetrável. 

Sem os fundamentos cristãos de nossa sociedade, cabe a nós decidir o que é certo e errado e, como ilustram claramente nossas guerras culturais atuais, nossa civilização se despedaçará antes de recuperar o consenso. Muitos ateus otimistas acreditavam recentemente que, uma vez que Deus fosse destronado e banido, poderíamos finalmente viver como adultos e continuar o projeto utópico de criar uma sociedade baseada na fé em nós mesmos. Infelizmente, esses céticos eram céticos em relação a tudo, exceto à bondade da humanidade, apesar de não terem base metafísica ou mesmo darwiniana para essa suposição facilmente reprovável. A popularidade fenomenal de Jordan Peterson é parcialmente baseada em seu reconhecimento de que as pessoas geralmente não são boas e o século passado prova isso com o sangue de milhões.

É o abjeto fracasso desta tese que está levando alguns ateus proeminentes a admitir relutantemente que talvez o Cristianismo fosse mais necessário do que eles pensavam. Em 2015, Richard Dawkins (autor de "Deus um delírio") argumentou que as crianças precisavam ser protegidas das visões religiosas de seus pais e fez uma série de comentários alarmantes sobre os direitos dos pais de educar seus filhos nos princípios de sua fé religiosa. Em 2018, no entanto, Dawkins estava avisando que a "religião cristã benigna" poderia ser substituída por algo decididamente menos benigno e que talvez devêssemos dar um passo para trás para discutir o que poderia acontecer se os secularistas evangélicos tivessem sucesso em destruir ou banir o Cristianismo. Outros ateus e agnósticos, de Bill Maher a Ayaan Hirsi Ali, ecoaram os sentimentos de Dawkins. Essa é uma mudança radical em apenas alguns anos - e o fato de os ateus estarem soando o alarme deve ser um aviso aos cristãos sobre as consequências de nossa secularização em curso.

Dawkins saiu agora e repudiou sua crença anterior de que o Cristianismo deveria ser banido da sociedade ainda mais firmemente. De fato, ele disse ao Times, acabar com a religião - uma vez seu objetivo fervoroso - seria uma péssima ideia, porque "daria às pessoas uma licença para fazer coisas realmente ruins". Apesar do fato de Dawkins argumentar há muito tempo que o Deus da Bíblia, como ser essencial para base da moralidade, é uma ideia ridícula e ofensiva, ele parece estar voltando atrás. "As pessoas podem se sentir livres para fazer coisas ruins porque sentem que Deus não as observa mais", disse ele, citando o exemplo das câmeras de segurança como um impedimento para furtos em lojas. É de se perguntar se ele ouviu Douglas Murray lembrar às pessoas que os soviéticos assassinaram milhões na firme convicção de que não havia um juiz esperando por eles quando o assassinato terminou.

Dawkins discute essas ideias ainda mais em seu livro mais recente, Outgrowing God (algo como Superando Deus). "Irracional ou não, infelizmente, parece plausível que, se alguém acredita sinceramente que Deus está observando todos os seus movimentos, é mais provável que ele seja bom", confessou, relutante. “Devo dizer que odeio essa ideia. Eu quero acreditar que os humanos são melhores que isso. Eu gostaria de acreditar que sou honesto se alguém está assistindo ou não. ”Embora essa percepção não seja uma razão suficientemente boa para ele acreditar em Deus, diz Dawkins, ele agora percebe que a afirmação da existência de Deus beneficia a sociedade. Por exemplo, Dawkins admitiu: "Isso pode reduzir o crime".

A conversão de Dawkins à crença de que o Cristianismo é bom - e talvez até necessário - para que a civilização ocidental funcione em harmonia não deixa nada a desejar. Dawkins tem sido um dos fundamentalistas mais intolerantes do secularismo, um homem que acreditava que os pais deveriam ter o direito de transmitir sua fé e que o governo deveria apoiar ativamente os ímpios sobre os fiéis. Em poucos anos, ele está mudando de ideia. Parece que os seres humanos reconhecem que não se pode confiar automaticamente em ser bom e operar no espírito de harmonia e solidariedade que ele e seus colegas novos ateus prezam. E, na ausência da bondade inerente à humanidade, como podemos contar com as pessoas para não destruir uma civilização construída por homens e mulheres de fé?

A resposta é simples: precisamos de Deus.


Links:
Texto original:  https://www.lifesitenews.com/blogs/atheists-sound-the-alarm-decline-of-christianity-is-seriously-hurting-society
Twitter do autor: https://twitter.com/JVanMaren
Christopher Hitchens e seus amigos cristãos:  https://thebridgehead.ca/2019/05/23/christopher-hitchens-and-his-christian-friends/ 
Douglas Murray apresenta seu livro no The Van Maren Show: https://thebridgehead.ca/2019/09/26/the-van-maren-show-episode-35-douglas-murray-on-the-madness-of-crowds/
Livro "Madness of Crowds" de Douglas Murray
Livro "Deus um delírio" de Richard Dawkins
Dawkins afirma que as crianças precisam ser protegidas da religião: https://www.lifesitenews.com/news/richard-dawkins-the-government-needs-to-protect-children-from-religion-and
Dawkins avisa sobre o Cristianismo benigno: https://www.lifesitenews.com/blogs/why-islams-rise-has-caused-worlds-leading-atheists-to-urge-west-not-to-aban
Dawkins fala ao The Times: https://www.thetimes.co.uk/article/ending-religion-is-a-bad-idea-says-richard-dawkins-sqqdbmcpq
Livro "Outgrowing God" de Richard Dawkins