quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Whiplash

É raro eu querer assistir um filme segunda vez, tive a grata surpresa de assistir Whiplash com Miles Teller no papel de Andrew Neiman e J. K. Simmons como Terence Fletcher e o prazer de repeti-lo. Assisti ao filme antes da cerimônia do Oscar e para minha surpresa o J. K. Simmons foi laureado com o Oscar de melhor ator coadjuvante, já havia levado o SAG Awards. Whiplash é um raro filme sobre jazz, um raríssimo filme ficcional sobre um baterista de jazz. O personagem de Teller é pressionado a limites extremos de excelência, extremos com os quais a maioria das pessoas não resistiria. É tão inusitado quanto tocar baixo à frente das guitarras como fazia Jaco Pastorius com a banda Whether Report. Não vi ninguém mais fazer isso.

Ficções de Jazz
Filmes ficcionais que envolvem a temática jazzística são raros eu mesmo me recordo com deleite de alguns como: Mo' Better Blues (com Denzel Washington antes de ser Malcomm X, Wesley Snipes antes de virar Blade), de La leggenda del pianista sull'oceano (com Tim Roth no papel do pianista 1900) e o também excelente Sweet and Lowdown dirigido e escrito por Woody Allen. Mas invariavelmente os filmes de jazz são documentários ou biográficos como Cadillac Records (com Beyoncé Knowles fazendo o papel de Etta James), de Ray (com Jamie Foxx no papel de Ray Charles) e Bird (com Forest Whitaker e dirigido por Clint Eastwood)

Bateristas 
Bateristas são músicos que normalmente se destacam pouco, normalmente estão atrás dos seus instrumentos e suas performances nem sempre tem a preferência e admiração do público como um cantor, um pianista ou guitarrista tem. Você mesmo pode fazer um teste. Qual o primeiro nome que lhe vem à cabeça quando você é perguntado sobre qual baterista você conhece ? Eu particularmente me lembro do selvagem e louco Animal da banda Dr. Teeth and The Electric Mayhem dos Muppets e do excepcional Phill Collins e só. Lembro também do brasileiro Naná Vasconcelos, mas ele é mais um percussionista e não baterista. 
Animal com a banda Dr. Teeth and The Electric Mayhem

Se filmes sobre jazz são raros e quando são feitos normalmente são documentários, curtas e ou animações. Que tal uma ficção sobre um baterista de jazz levar um Oscar ? É algo bem inédito. Filmes com bateristas (drummers) como protagonistas são pouquíssimos. Encontrei somente 6, sendo dois biográficos - The Gene Krupa Story de 1959 e That Thing You Do! de 1996; dois documentários - Beware of Mr. Baker de 2012 sobre a vida de Ginger Baker, ex-baterista das bandas Cream e Blind Faith e The Savoy King: Chick Webb and the music that changed America de 2012 sobre a vida de Chick Webb; e outros dois puramente ficcionais -  The Strip de 1951 The Jazzman de 2009. Nenhum deles com grande repercussão além de "That Thing You Do!" cuja temática é de rock e não de jazz. "That Thing You Do!" reconta a história da banda The Wonders, mas o diferencial foi o elenco que contava com Tom Hanks, Liv Tyler e Charlize Theron. 

Whiplash
Neste cenário surge Whiplash e agora com um Oscar no currículo. O que Whiplash tem que o torna tão bom ?
Em Whiplash eu vejo a busca pela excelência como a única opção. A opção pelo razoável, pela sobrevivência é a opção pela derrota. E quando a opção pela excelência parece inviável, aí então não se tem nada a perder e aqueles que não tem nada a perder se tornam perigosos.
Para ser excelente é preciso querer muito mais, querer ao ponto de se doar completamente, sacrificar tudo, ir até ao ponto de sangrar. Vemos isso em muitas situações, nos esportes, no mercado, no amor, na luta pela vida dos que amamos, enfim a luta sangrenta, ferrenha, levada a limites extremos nos encanta não importa o enredo.
Entretanto o contexto da música, da excelência musical, jazzistica e no caso de bateria nunca tinha visto. Na juventude ouvi bastante Dizzy Gillespie, Charles Mingus, John Coltrane e Miles Davis e na vida de cada um vemos a genialidade e intensidade de produzir música com o seu instrumento deixando sua marca na história. Vemos isso na vida de Ray Charles, um negro, cego que se vê como a única saída possível, tocar e fazer música como a redenção e significado de sua vida mesmo apesar de toda a adversidade.
Em Whiplash, apesar de ficção, temos esses elementos estão presentes. Terence Fletcher é o professor mais exigente do Conservatório Shafter e atrai um jovem baterista do primeiro ano - Andrew Neiman - para tocar em sua banda, a mais prestigiada do Conservatório. Andrew Neiman é recebido graciosamente, mas no primeiro ensaio leva uma sequência de bofetadas para fazer o compasso correto.
Apesar do início desastroso, Neiman não desiste e pratica ao extremo a música Whiplash, um jazz de Hank Levy. Eis aqui três execuções da mesma:

Áudio da performance da Towson State University Jazz Ensemble em 1979 numa versão mais equilibrada


Áudio da performance do filme Whiplash com a bateria tem o destaque


Performance do The Branford Marsalis Quartet com piano, baixo, sax e bateria e o baterista numa execução eletrizante



Caravan
Neiman desbanca o baterista titular e quando começava a saborear a vitória, se vê em uma nova competição com mais outro baterista para tocar na mesma banda a música Caravan de Juan Tizol e Duke Ellington de execução mais difícil, ainda assim ele vence. Então a trama se complica quando Neiman não consegue se apresentar e é expulso da banda e ataca fisicamente a Fletcher e sua carreira acadêmica no Conservatório Shafter chega ao fim com sua expulsão da instituição. 
Neiman se vê sem rumo. Neiman tem o apoio do pai. Ele o criou sozinho. E este pai é um pai especial pois o acompanha, protege e o apoia. É um personagem de atuação discreta, mas decisiva. Por conselho do pai, Neiman depõe contra Fletcher em um processo sigiloso e este é expulso do conservatório devido seu método heterodoxo de forçar os alunos a ir além dos seus limites.

Vingança - um prato que se come frio
Neiman e Fletcher se reencontram, Fletcher está tocando e se apresentando em competições de Jazz. E atrai Neimam para uma apresentação muito importante, que pode-se dizer é uma apresentação capital para um público muito seleto onde ótimas performances serão certeza de uma carreira promissora e contratos certos e uma péssima apresentação nunca será esquecida.
Fletcher garante que Neiman dará conta do trabalho, as músicas são as mesmas da banda do Conservatório. Então temos a esperança que será o coroamento do talento de Neiman como baterista e de Fletcher como criador de excepcionais músicos. Na verdade é a vingança de Fletcher que com a banda no palco diz a Neiman que sabe que foi a acusação dele no processo sigiloso que ocasionou a sua demissão do Conservatório Shafter e comanda uma música que Neiman não conhece e nem tem a partitura.
Neiman se vê num beco sem saída ao executar a música toda errada e ao fim dela sai do palco cabisbaixo e sem esperança.

A reviravolta
 Seria um desfecho triste, o fim de qualquer ambição dele como músico. Aqui 2 coisas se destacam.
A primeira o pai que o espera fora para o abraçar e acolher. Que pai ! Que cuidado ! Que amor ! Que exemplo de companheirismo e doação. Ele abraça Neiman e então este serenamente se refaz. A segunda é o contra-ataque totalmente inesperado de Neiman. O contra-ataque daquele que nada tem a perder, pois já perdeu tudo. Neiman volta ao palco, e sem esperar por Fletcher, começa a tocar Caravan, faz uma introdução só com a bateria, e faz a banda começar a tocar com ele. Fletcher não tem saída senão execução forçada da música e a conduz inicialmente desconfortável pela situação pois o pupilo o pôs contra a parede e agora o está dirigindo. A música vai ao auge, Fletcher se vê envolvido. A música termina, mas Neiman continua num solo de bateria, uma obra-prima, intensa, contagiante que Fletcher se vê derrotado, conquistado pela execução. Neiman se exaure, baba, sangra... Neiman determina o fim de uma obra de jazz, única, improvisada, sem igual. O seleto grupo de experts da plateia, não esquecerá daquele baterista nunca mais. Veja três execuções de Caravan ... 

A execução dos compositores Juan Tizol com a Duke Ellington and his Orchestra


Aúdio da execução de Caravan no filme Whiplash



Caravan executada por membros da Jazz at Lincoln Center e Tomorrow's Warriors



A inspiração
Mas como no mundo da arte nada cria, toda arte de hoje é fruto da arte de ontem repaginada, misturada, refeita. Assim sendo é inegável a semelhança da insana performance do baterista real Buddy Rich com a performance do fictício Neiman faz no filme. Tire suas próprias dúvidas.


Buddy Rich em performance inspiradora


É parecido ou não é ? Depois de Whiplash, talvez a gente preste mais atenção no cara armado de baquetas.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

O Novo Complexo de Pedra Caída , em Carolina-MA

Entrada do Complexo
Aproveitando a disponibilidade de tempo, já que era fim das minhas férias,  aliado à vontade de fazer uma viagem curta, arrumei as malas e fui em um destino muito conhecido pelos moradores de Imperatriz e região: O  Novo Complexo de Pedra Caída.

A diferença agora é que está praticamente pronta a nova estrutura, faltando somente inaugurar os quartos do hotel e dos novos chalés. Quem conhecia a estrutura antiga, ao ver como ficou,  com certeza ficará positivamente surpreso. A mudança foi radical.

BR 230 : Pouco movimentada e sem buracos
O complexo dista aproximadamente 210 km da cidade de Imperatriz , que é também a única cidade da região com voos comerciais diários (Gol, Tam e Azul). A estrada até este ponto turístico é muito boa, sendo que é necessário mudar de rodovia apenas uma vez, saindo da BR 010 e entrando na BR 230. O trânsito  nesta última é muito pequeno, e toda a estrada foi recapeada recentemente.

Chegando no complexo, é tudo novo: da entrada a como os passeios são realizados.  Há agora uma recepção e uma área com um painel onde são mostradas fotos de todas as cachoeiras e atividades que podem ser ali praticadas . Neste momento, há funcionários que explicam com detalhes como são as cachoeiras, tempo do passeio, distância, etc. Falaram até que para tirar fotos na Cachoeira do Santuário (a maior),  bom mesmo é usar uma câmera “Go Pro”!

Novas piscinas
Construíram 3 grandes piscinas, infantil e adulto, com bar molhado.  Foram colocados também algumas tendas, cadeiras e guarda sóis. O restaurante self service oferece comida razoável  a um preço justo, não tão caro como poderíamos acreditar por estar em um ponto turístico.

No complexo, existem várias cachoeiras que podemos visitar, sendo que os preços variam. Ao pagar o passeio, é também agendado o horário de saída. Como não conhecia, resolvi ir nas cachoeiras do Capelão e da Caverna. O trajeto até as cachoeiras é feito em um caminhão próprio, coberto. A viagem é tranquila e segura, já que a estrada está em boas condições.





Entrada da Cachoeira da Caverna
Logicamente, o caminhão não chega até a cachoeira, devemos descer e caminhar um pouco no meio do cerrado. Mas nada distante, qualquer pessoa consegue ir. A primeira cachoeira foi a da Caverna, que tem esse nome porque antes de chegarmos nela, temos que passar por uma grande caverna.  É impressionante o tamanho da rocha! A cachoeira também é muito bonita, mas não se compara à cachoeira principal do complexo, a do Santuário.

Cachoeira da Caverna
Após isso, saímos e fomos à cachoeira do Capelão. Infelizmente, o guia-motorista não falou o porque disso. Acho que esse é um ponto a melhorar, já que durante o passeio não é dito nada a respeito das cachoeiras ou do complexo, e sim somente na hora da contratação do mesmo.

Nesta cachoeira do Capelão, temos que descer umas escadas. Neste momento, houve um pouco de reclamação das pessoas mais sedentárias, mas também, nada demais, qualquer pessoa consegue ir. A cachoeira também é muito bonita, realmente vale a pena conferir. O passeio ao todo durou cerca de 2 horas.


Como ainda não há disponibilidade de quartos no complexo, resolvemos ir para Carolina atrás de um hotel. Há muito tempo tentava ficar na Pousada dos Candeeiros, mas infelizmente sempre a encontrava lotada.


Cachoeira do Capelão

Por sorte, e por ter havido uma expansão, aumentando o número de quartos, consegui lá ficar. A pousada é muito boa, com atendimento atencioso dos funcionários e proprietários.A noite, fomos à praça principal jantar, e por indicação da pousada, fomos à pizzaria Tio Pepe. A  dica  realmente se confirmou: a pizza estava muito boa!!!

Por conhecer já ha muito tempo, de outros passeios,  foi visível perceber que a  cidade melhorou muito a estrutura,com várias opções de hotéis e principalmente restaurantes. O ponto negativo é que a gasolina em Carolina é extremamente cara (R$3,84 o litro)

Há também na cidade várias empresas que organizam passeios a outras atrações da região , os chamados de “receptivos”. Nunca usei nenhum dos serviços destas empresas, por isso não posso  afirmar sobre a qualidade. Para achar, basta uma rápida pesquisa no google.

Pessoalmente, achei que ir a Carolina e a Pedra Caída é mais fácil do que ir aos Lençóis Maranhenses, já que a estrada é mais sinalizada , e além disso, praticamente durante todo o ano as cachoeiras da região podem receber visitação , ao contrário dos grandes lençóis,  que existe uma data “ótima” para conhecer em sua plenitude.Deste modo, já terminado, indico a todos que puderem ir, que o façam, pois vale muito a pena.