terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Otto e Holdovers


Normalmente eu tento dar foco a um único filme principalmente em um post. Mas eu vi muita relação entre "A man called Otto" e "The Holdovers" que achei que vale a pena escrever a respeito.
"A man called Otto" teve no seu elenco o premiado Tom Hanks no papel principal. Eu pessoalmente gostei do filme, mas ele teve poucas indicações e venceu somente um prêmio. Já "The Holdovers" recebeu 5 indicações ao Oscas, não levou nenhuma estatueta mas recebeu muitos outros prêmios por outras associações. 
Para mim ambos contam histórias de redenção. Histórias de como pessoas amargas, traumatizadas ou estagnadas são salvas de si mesmos, redimidos de sua vida parada, desvalorizada para uma vida nova, para relações humanas saudáveis, ainda que implique perda ou sacrifício pessoal. 
 Em "A man called Otto", Otto é um homem solitário que patrulha o condomínio em que vive, atazanando a vida dos moradores para que as regras sejam seguidas a qualquer custo. Em "The Holdovers", Paul Giamatti apresenta o professor de história de civilizações antigas Paul Hunham, um professor de um college (ensino médio) - a Barton Academy - mui tradicional e com regras que permitem o professor Hunham ser inflexível com os alunos ricos. Porém Hunham foi aluno da escola e voltou para lá quando seu projeto pessoal acadêmico fracassou e na verdade Hunham se escondeu e se acomodou na Barton graças a um diretor que o acolheu.

Redentores
Em  "A man called Otto", Mariana Treviño performa Marisol, uma esposa e mãe de 2 crianças e grávida de uma terceira que quebra as barreiras e regras de Otto e entra na sua vida, seja com suas necessidades  seja com sua gentileza pessoal para perceber que aquele homem precisa de pessoas, de cuidado, de atenção. Marisol de certa forma subverte o mundo de Otto e o salva de si mesmo e de suas idiossincrasias. Já em "The Holdovers", Dominic Sessa performa Angus Tully, um aluno problemático que é deixado na escola pela mãe para ficar o fim de ano com o professor Hunham, que é algo no mínimo massacrante, pois todos os alunos são liberados e a Barton fica num local em que o inverno é muito intenso. Apesar do problemas, Angus não é um adolescente perdido no mundo, é inteligente, sabe o que quer, porém o fato de não conseguir o angustia e o desespera levando a rompantes impulsivos que prejudicam sua relação com os demais. Hunham percebe que Angus é um "holdover" - um rejeitado - como ele próprio é um rejeitado. Porém a convivência e a situação de ambos os identificam e os unem de modo que floresce uma relação de demandas e entregas mútuas.

A redenção
Em  "A man called Otto", Otto passa a ter uma vida de doação pessoal àqueles que o rodeiam, tem sua história pessoal de amor com a esposa resgatada (Otto é viúvo) e tem um final esplêndido, humano, tocante.
Em "The Holdovers", Paul Hunham como um estoico puro sangue se sacrifica em favor de Angus, de modo austero, altivo, sem emocionalismos, mas igualmente humano, tocante.
Ambos filmes não são pesados e além da temática de relacionamentos difíceis. Os momentos de escapes cômicos dão leveza e divertem além de emocionar.

sábado, 3 de fevereiro de 2024

Air - Anos 80 e muita ousadia

Eu assisti a Air em 2023, mas somente agora pude fazer este breve ponto de vista. E Air surpreendeu-me tanto pela história em si (fatos reais) mas também por ter sido muito bem produzido, mostrando com fidelidade os anos 80 com seus eventos, personagens famosos, artistas, filmes, foi como abrir uma gaveta de coisas das quais você guarda saudades.
Air conta a história do gerente de negócio da Nike - Sonny Vaccaro - interpretado por Matt Damon. Neste período a Nike não era ainda o grande sucesso de vendas, produtos e marketing que viria a ser. O filme retrata a virada. E a virada veio pela contratação única e exclusiva do maior jogador de basquete de todos os tempos - Michael Jordan. 
Não há muito o que falar sobre Michael Jordan, multi-campeão pela NBA com o Chicago Bulls e pela seleção americana de basquetebol, campeão olímpico, etc. Pois bem a Nike contratou o Jordan quando ele ainda era amador. No competitivo mercado americano as promessas são recrutadas cedo justamente para se ter a exclusividade nos anos de auge. 
E não deu outra, a Nike acertou em cheio porém o caminho foi difícil, pois havia duas grandes empresas que dominavam o mercado a Converse e a Adidas. Vaccaro primeiro ganhou a luta interna para convencer os superiores a contratar a maior promessa com exclusividade (e para isso alocar toda a verba do setor de marketing). O argumento foi simples mas difícil de ser aceito: Fazer uma única grande contratação do que várias contratações inferiores ou medíocres. A dificuldade na aceitação era que a grande contratação podia não ocorrer - ou seja era uma aposta. Vaccaro venceu esse primeiro obstáculo e depois teve que vencer o segundo que foi bem maior.

Convencer os pais de Jordan que a Nike era a melhor opção, apesar de todo o dinheiro que as grandes lhes dariam, elas não dariam a Jordan o principal lugar. Sempre havia astros veteranos que atraiam fãs e consumidores. Os grandes nomes da época eram Magic Johnson e Larry Bird para ficar nos dois maiores. Na Nike, Jordan seria única estrela. Vaccaro foi muito perspicaz para ter acesso aos pais de modo mais pessoal possível e ser transparente com eles inclusive antecipando como eles seriam tratados pelas demais grandes do mercado e não deu outra. A família Jordan teve segurança, estabilidade e vantagens contratuais nunca vistas ao assinar com a Nike. 
O grande produto da parceira foi o tênis Air Jordan que até hoje é relembrado pela foto icônica do "voo" de Jordan em direção a cesta. O contrato, o produto a campanha em são todos um caso de sucesso sem igual no mundo dos negócios que é estudado e repassado exaustivamente tanto em agências quanto no meio acadêmico. Para saber mais sobre o que veio a ser o bilionário tênis Air Jordan, clique neste link



Há muito o que explorar tanto da carreira de Jordan, da Nike e do contrato de ambos, porém para finalizar eu gostaria de destacar uma imagem que aparece bem no início do filme que é um quadro no qual estão publicados os princípios da Nike, abaixo os reproduzo na sua versão original:



Segue uma versão em português. Para uma análise detalhada de cada princípio visite este link.

1) Nosso negócio é mudança.

2) Estamos no ataque. O tempo todo.

3) Resultados perfeitos contam — não um processo perfeito. Quebre as regras: combata a lei.

4) Isso é tanto sobre batalha quanto sobre negócios.

5) Não presuma nada. Certifique-se de que as pessoas cumpram suas promessas. Dê impulso a si mesmo e aos outros. Estenda o possível.

6) Viva da terra.

7) Seu trabalho não está terminado até que esteja terminado.

8) Perigos: Burocracia; Ambição pessoal; Tomadores de energia VS. doadores de energia; Conhecer nossas fraquezas; Não coloque coisas demais no prato.

9) Não será bonito.

10) Se fizermos as coisas certas, ganharemos dinheiro quase que automaticamente. 

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Link do filme Air no IMDB: https://www.imdb.com/title/tt16419074/