Mostrando postagens com marcador Drauzio Varella. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Drauzio Varella. Mostrar todas as postagens

domingo, 7 de dezembro de 2014

Por um fio, de Drauzio Varella

Eu já havia lido "Estação Carandiru" a muito tempo atrás, recordo-me que achei muito bem escrito, com cada história cheia de realismo entremeado de peculiaridades bem simples, mas tão próximos de nós que nos transportava para aquelas cenas duras cruentas, algumas difíceis de imaginar, mas tão chocantes que nos fazia perguntar até onde o ser humano é capaz de ir em situações extremas.
Por um fio é igualmente eivado de realidade, de pormenores inegavelmente próximos de nós, porém traz a sabedoria explícita de saber que estamos indo para o fim. Fim que para alguns dos pacientes ao longo dos 40 anos de carreira do médico Drauzio Varella, é recebido das mais diferentes formas, porém nunca evitado. O livro não explica porque ele escolheu a oncologia, área em que nos anos 70 a morte era rápida e certa. Com o passar dos anos o médico passou a colher algumas vitórias, então veio a AIDS e Varella retomou sua rotina de perda de pacientes. Assim dito parece que perdia algo sem valor, mas não a perda era de vida eram com histórias e dramas e preconceito e lutas e dor muita dor. Histórias de grandeza, de mesquinharia, de ingratidão, mas também de felicidade, de sabedoria, de dedicação e amor. Varella conta que os nomes dos pacientes foram trocados, mas os relatos são tão cheios de realidade que ser impossível não haver licença poética nos detalhes, que de tantos que são, creio serem fictícios, porém dão leveza ao enredo.
Varella racionalista que é, nunca entra em questões de fé, mas relata como o câncer é democrático e a todos escolhe, de todos os tipos de crenças, ascendências, status ou conhecimento.
Também é patente a suprema satisfação de salvar uma vida. A realização e a relação de amizade que se segue, a satisfação do trabalho bem feito. Nesse sentido Varella supera toda o sacrifício e o estresse por cuidar de tantas pessoas, perder a maioria delas, mas ainda assim salvar algumas. Não há como não ter uma ponta de inveja dos médicos. Varella então é um caso mui digno, pois escolheu por duas vezes atuar com pacientes de doenças extremamente letais - o câncer e a AIDS, ambas cercadas de muita ignorância e preconceito.
O ato final do livro conta a maior das derrotas. A perda do irmão de Varella, Fernando, também médico e que trabalhou com ele por anos a fio salvando vidas na clínica dos dois. É um relato difícil, racional, detalhado de todas as decisões e tentativas, exames, tratamentos até que o câncer prevaleceu e não restou a Varella fazer a suprema vocação do médico - aliviar a dor dos doentes. 
Por isso tudo isso "Por um fio" é um ótimo livro e vale a pena ser lido.