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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O operário

O filme "O operário" (título original: The machinist) de 2005 é dirigido por Brad Anderson (dirigiu Transsiberian) e escrito por Scott Kosar (roteirista de "The crazies"). Tem Christian Bale numa atuação soberba. Bale atuou na nova trilogia de Batman (Batman Begins, The Dark Knight, The Dark Knight Rises), além de boas atuações em "3:10 to Yuma", Terminator Salvation, Public Enemies, além de um Oscar de ator coadjuvante em "The Fighter". Porém em "O operário" Bale surpreende não só pela extrema magreza mas também pelas expressões de cansaço, exaustão e confusão que pintam um quadro assustador. Neste filme  Bale é Trevor Reznik um operário de uma fábrica que já no início do filme aparece todo machucado, levando um cadáver num tapete. A história do filme volta no tempo e mostra Reznik já bem magro. Ele relaciona-se regularmente com a prostituta Stevie, papel de Jennifer Jason Leigh e visita a garçonete Marie no aeroporto da cidade, em tese, distante do lugar onde mora e trabalha. No filme há uma repetição subreptícia de algumas cenas, além de mensagens relacionadas à trama, como o acendedor de cigarros do carro sacando, a passagem por um cruzamento e a hora "1:30". Reznik vai se exaurindo pois ele não consegue dormir. Ele simplesmente não dorme a um ano, e sempre às 1:30 ele parece mais cansado. Como não dorme ele vai limpando o apartamento de modo característico de que tem TOC (transtorno obsessivo compulsivo) porém ele também vai esquecendo coisas e vendo outras. Assim conhece Ivan, um possível colega de trabalho e graças a esse colega ele causa um acidente que provoca a perda da mão de outro empregado, com isso ele ganha a antipatia de todos os companheiros de trabalho. Como ninguém conhece Ivan, ele passa a perseguir o seu carro vermelho, no intuito de encontrar respostas. Junto a isso Reznik desconfia que alguém entrou no seu apartamento e fez um jogo da forca e o colou na porta de sua geladeira. No desenrolar do filme sobressaem referências a Fiodor Dostoiévsky. Reznik parece ler o livro "O Idiota", de Dostoiévsky. Há também semelhanças com a obra "Irmãos Karamazov" também de Dostoiévsky. Porém "Crime e Castigo", também de Dostoiévsky, é a obra na qual Scott Kosar parece ter se baseado. "Crime e Castigo" conta a história do jovem Raskólnikov que comete um assassino e se vê inviabilizado pela culpa ainda que seja tratado graciosamente por uma prostituta que o ama e cuida dele apesar de seus crimes. Reznik conta com a ajuda de Stevie que quer deixar a prostituição e viver com ele. É ela que o ajuda quando ninguém o recebe mais. Reznik chega ao extremo da perseguição a Ivan, jogando-se sobre um carro para ser atropelado e assim tentar obter na polícia informações sobre Ivan. Reznik fica em frangalhos, cheio de hematomas, mais cansado que nunca e ao reportar o acidente e informar a placa do carro de Ivan o policial diz-lhe que o carro é do próprio Reznik. Ele foge para não ser preso e tudo começa a fazer sentido. Ele encontra Ivan e numa briga termina matando-o. O filme volta a sequência do início quando Reznik tentando se livrar do cadáver de Ivan o enrola num tapete e o joga no mar, porém o cadáver sumiu. Reznik então lembra-se de tudo. A resposta para o jogo da forca é "Assassino". A garçonete Marie com quem Reznik falava no Aeroporto não existe como garçonete, mas é mãe de um garoto morto em um atropelamento no qual o motorista fugiu. O motorista dirigia um carro vermelho igual ao de Ivan. O motorista era Reznik. Assim de modo improvável toda a sua paranoia o levou a lembrar do acidente que deve ter lhe causado amnésia, mas seu corpo tinha consciência do delito e não o deixou dormir. No fim Reznik entrega-se à Polícia, confessa o crime e vai para  a cela, deita-se e dorme. Acho toda essa trama interessante não é tanto pela qualidade do ator de transformar completamente seu corpo para o papel, mas como a culpa e consequentemente a consciência dela é forte. Normalmente as pessoas inventam desculpas para seus erros e de modo assumem que estão erradas. Deliberadamente negam qualquer falha e mentem descaradamente. Como Reznik sofrem até amnésia dos erros. Mas a culpa pela morte do garoto o persegue e impregna-se ao ponto de gradativamente levar à consciência do erro. Depois de finalmente consciente ele confessa, assume o erro, então ele encontra paz.