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sábado, 25 de março de 2023

Náufragos, traficantes e degredados

Li dois dos quatro livros da coleção Brasilis de autoria de Eduardo Bueno que por si só uma figura revolucionária, entusiasmada e histriônica. Por um tempo acompanhei ele no seu canal no Youtube. Ambos os livros tratam dos eventos que envolveram a corrida náutica pelas rotas comerciais e que compreendem os feitos de exploração da costa africana, descoberta do caminho das Índias, descobrimento da América e do Brasil, circunavegação da Terra e a busca pela riquezas na região andina. Muitos personagens atuaram para toda a sucessão de eventos. Em geral as 3 décadas de 1500 a 1530 são resumidas em alguns parágrafos nos nossos livros didáticos e também é muito pouco explorado em produtos da cultura pop como filmes, séries, documentários aos quais em geral temos acesso.

Uma das dificuldades cruciais é a pouca quantidade de materiais historiográficos e muitas constatações terminam por serem cartas e documentos espalhadas pela Europa. Mas grande parte estava na Espanha e Portugal. Os documentos que estavam em Portugal parte foi perdida e parte encontrada, décadas e até séculos depois. 

Quero destacar alguns aspectos.

1. As viagens tinham um preço muito alto. E não estou falando de preço financeiro, pois este também era muito alto. Os governos não conseguiam financiar sozinhos as viagens, o custo era dividido entre a iniciativa privada e os governos em geral, ou totalmente custeado pela iniciativa privada e o governo fazia uma concessão. Cada país adotou modelos diferentes, sendo que os pais que estavam mais atrás optaram pela pirataria institucional. O custo maior ao meu ver era o custo humano pois nos que embarcavam em geral não retornavam. Eles recebiam adiantado o pagamento pela viagem e o pagamento ficava com a família. E em geral morriam por doença, naufrágio ou lutas.

2. Cada personagem tinha as atitudes muito diversa do que em geral pensamos. a) Os navegadores queriam sim desbravar mas partiam rumo ao desconhecido tendo que enfrentar situações as mais diversas, motins, emboscadas, perda de material, comprometimento da saúde etc. Quando voltavam com algum êxito eram cumulados de riquezas e títulos. Apesar dos atos de bravura em geral os navegadores eram homens cruéis, ambiciosos e tinham direito sobre a vida e morte dos tripulantes; b) Náufragos e degredados conseguem se adaptar nos novos locais e tornam-se homens poderosos e influentes. Tornando-se mui ricos chegaram a voltar à Europa para comparecer diante de reis e rainhas. Estes iniciaram a miscigenação no Brasil, pois não tinham critérios para se relacionar com as índias e assim terem muitos descendentes. c) Os índios que tiveram as atitudes mais diversas, algumas tribos sendo aguerridas e arredias, outras dissimuladas e outras amigáveis. Os índios ao contrário do que se dizia não aceitaram somente miçangas e bugigangas, rapidamente passaram a querer ferramentas e materiais dos europeus e sim trabalharam duro e foram escravizados mas houve também resistência.

3. Alguns personagens entretanto chamaram muito minha atenção como Caramuru, o Bacharel de Cananéia e claro o náufrago João Ramalho que praticamente foi o senhor do Brasil de fato sendo chamado de pai dos mamelucos e praticamente o pioneiro de São Paulo. João Ramalho dominava tribos e escravos, teve uma vida extremamente longeva (mais de 90 anos) e ativa.

4. Um outro personagem especial é o índio carijó Içá-mirim, filho do cacique Arosca. O navegador francês Binot Paulmier de Goneville veio ao Brasil em 1503 e aportou ao que se acredita na região que é hoje o Estado de Santa Catarina. Binot teve excelente recepção e convívio com os índios, o que levou o cacique a permitir que seu filho Içá-mirim (chamado Essomericq pelos franceses) foi levado para a Europa para aprender a civilização dos navegadores (armas principalmente) de modo quando voltasse pudesse se sobrepor aos inimigos. Infelizmente a viagem de volta foi cheia de percalços e prejuízos o que impediu Binot de voltar ao Brasil. Não podendo cumprir a promessa de retornar com Içá-mirim, Binot o fez herdeiro seu e o casou com sua filha. Içá-mirim ou melhor Essomericq teve vida longa na França (95 anos) e deixou 14 filhos.

5. Os pioneiros do descobrimentos buscavam a sobrevivência num mundo em que a força e as riquezas se sobrepunham e a vida era muito mais frágil mas também não ansiavam por muita glória. Os que os moviam era o desejo pelas riquezas e para isso eles pilhavam, escravizam, guerreavam, tomavam e matavam, tudo pela possibilidade de descobrir riquezas para seus patrocinadores.


sábado, 2 de fevereiro de 2019

D. Pedro I - Um herói sem nenhum caráter

Foi uma grata surpresa o olhar lançado sobre o primeiro Imperador do Brasil pela escritora Isabel Lustosa. Apesar do título destacar algo negativo sobre D. Pedro I, alguns de seus bons feitos não são esquecidos, óbvio se o fossem o livro seria um massacre, pois material que o fundamente há. E é farto !
Mas foi esta combinação real de virtudes e defeitos que torna o livro muito melhor. O que pude reter da leitura foi constatar um D. Pedro muito contraditório, às vezes convicto de posições políticas liberais mas de prática absolutista e autoritária. 
D. Pedro conseguiu ser marido cuidadoso no inicio do casamento com a D. Leopoldina mas que gradualmente se tornou cruel colecionando amantes as mais diversas chegando ao cúmulo de ao mesmo tempo se relacionar com mulheres casadas com oficiais, mulheres irmãs entre si, sem o menor escrúpulo, até a situação acintosa em que sua amante oficial - Domitila de Castro que veio a ser Marquesa de Santos - exercer tal influência nas decisões do império e sobre o Imperador que era mais procurada e mais festejada do que a Imperatriz Leopoldina. 
É indubitável que a Imperatriz Leopoldina exerceu papel fundamental na independência e união do Brasil e que pagou caro pela sua atuação em favor do país e do Imperador. A Imperatriz foi humilhada, mal tratada, renegada, tolhida e desprezada pela corte brasileira e portuguesa. Amada pelo povo brasileira por suas ações a Imperatriz até o dia hoje o povo do Brasil tem carinhosa lembrança dela. Apesar dos seus percalços a Imperatriz deu a luz a 7 filhos, sendo que 4 vieram a ter descendência, mas sua saúde não resistiu aos maus tratos, humilhação e abandono e ela morreu aos 29 anos em 11 de dezembro de 1826.
O Imperador teve uma crise de choro pela Imperatriz anos depois da morte da Imperatriz, como um luto tardio e intenso mas que pragmaticamente passou. 
A morte da Imperatriz forçou D Pedro I a procurar uma nova companheira e não podia ser a amante oficial. Com muito custo, muitas idas e vindas, amores e desamores D. Pedro I conseguiu outra vez casar, desta vez com a princesa Amélia de Leuchtenberg. D. Pedro I mesmo com duas esposas conseguiu ter 14 filhos reconhecidos com 5 mulheres diferentes.

Ainda assim D. Pedro I é conhecido como o principal responsável pela independência do Brasil. Claro que a atuação de coadjuvantes foi muito importante mas sem a pessoa do príncipe de Portugal que cresceu no país tal feito não seria possível. D. Pedro I sempre foi politicamente liberal e constitucional, conceitos que assustavam seu pai - D. João VI e sua Imperatriz  Leopoldina, ciosos dos acontecimentos que variam a Europa em que as monarquias que não caíram eram colocadas em suspeição tendo uma vida difícil. Esta imagem do D. Pedro I muito lhe ajudou quando ele surpreendentemente abdicou do trono brasileiro em 7 de abril de 1831. Óbvio que o imperador tinha em vista a possibilidade de ocupar o trono de Portugal, o que de fato ocorreu, ele veio a se tornar Pedro IV de Portugal, porém este título ele teve conquistar numa guerra desigual com seu irmão Dom Miguel e o conde de Molina - infante Carlos de Espanha. A guerra exauriu a saúde do imperador que somente 3 anos após abdicar o trono do Brasil veio a falecer em 24 de setembro de 1834 de tuberculose. D. Pedro I teve seus feitos reconhecidos pela história, bem como sua vida tumultuada e pouco recomendada que contrasta com o reino de seu filho D. Pedro II do Brasil.