domingo, 25 de abril de 2021

Einstein, sua vida, seu universo (parte 1)

Eu conclui a leitura de Einstein, sua vida, seu universo de Walter Isaacson. Li antes (em 2013) do mesmo autor, o livro chamado Steve Jobs. Posso dizer que são ótimas obras, completas, amplamente documentadas e como uma boa biografia o livro cumpre o que promete e aborda cada particularidade da vida do biografado.

Albert Einstein como físico teórico poderia ter pouca coisa a ser dita sobre ele, mas como gênio e celebridade (apesar de físico teórico) foi gerado um vasto acervo de informações, artigos, publicações, livros, biografias autorizadas e desautorizadas e cartas. Some-se a isso, foi descoberto um conjunto de cartas e documentos encontrados nos anos 1980 que lançaram novas luzes sobre eventos do passado.

O tijolo do Walter Isaacson, de 696 páginas, não pode ser adequadamente resumido neste post simples. Como de outras vezes ressalto que meus posts sobre livros, filmes, séries são recortes que explicitam aspectos que eu achei importantes e por isso resolvi registrar. Para algo mais completo e abrangente há toda a bibliografia do livro e muitas referências que podem ser achadas na internet. A obra em si que por mais completa que seja não deixa de ser um recorte. Então meu post é um ultra-hiper-super-recorte do recorte.

Ressalto ainda que há várias resenhas sobre o livro já dão uma visão curta do que foi a vida de Einstein, então vou abordar só que acho realmente importante.

i) Isaacson começa sua obra com o que há sobre a família de Einstein, sua infância e adolescência. Já aí deixa bem claro que Einstein se torna questionador, insolente, contrário a todo tipo de cerceamento da liberdade de expressão e pensamento e contrário à autoridade e obediências em geral. Então mesmo o nazismo longe de existir ele rejeita a rigidez e o militarismo alemão. Ao longo de toda a obra, também salta aos olhos os hobbies de Einstein que eram tocar violino, fumar cachimbos e charutos bem como velejar.

ii) Aos 16 anos, Einstein força a saída de Munique e vai concluir os estudos na Suíça. Aos 17 renuncia a cidadania alemã e fica apátrida até 1901. Einstein completa seus estudos na Suíça, de 1895 a 1896 completa o ensino secundário e de 1896 a 1900, o curso para professor de Física pela Escola Politécnica de Zurique e o doutorado de 1901 a 1905. 

iii) A indisposição e insolência em relação aos professores e superiores, vai lhe prejudicar para conseguir uma vaga nas instituições de ensino como professor.

iv) Einstein tinha grande poder de concentração, o que o afastava de relacionamentos mais pessoais, porém isto era totalmente flexível, para tratar de temas de seu interesse e com os amigos que fez (sim, Einstein conseguia ser caloroso com amigos e galanteador com mulheres) tal concentração o ajudava com experimentos e resolução de problemas, porém quando conveniente se afastava dos problemas mais prosaicos e cotidianos. Em geral, Einstein atendia pedidos de estranhos e até de instituições, o que lhe prejudicou inúmeras vezes durante sua vida pois em boa parte delas ele não fazia ideia do que as instituições defendiam. Ele era muito desatento com relação a pequenos itens e ao cuidado pessoal. Chaves, carteiras, casacos esquecidos com frequência, cabelo esvoaçante por cortar, roupas com algum desalinho. Inúmeras vezes Einstein saia de casa ou do lugar onde estava hospedado à pé, já que ele não quis aprender a dirigir automóveis e não sabia como voltar pois passou boa parte do caminho imerso em pensamentos de modo a não prestar atenção no percurso que estava fazendo.

 

v) Einstein conheceu Mileva Marić, sua amiga na graduação com quem partilhava ideias e trabalho. A amizade evoluiu para um envolvimento sentimental. Einstein teve 3 filhos com Mileva (a primeira filha - Leisel -  nascida antes do casamento, foi entregue para adoção. Não se sabe o paradeiro de Leisel). Mileva não conseguiu ser aprovada no curso. As razões foram variadas e não é possível afirmar com certeza. Pode ter sido por ser mulher - algo raro (mulheres na graduação em Física) à época, seja por dificuldades pessoais - ela era sérvia e vivia longe da família. Mileva terminou tendo que cuidar dos filhos e da casa. A relação com Einstein se deteriorou. Eles casaram-se em 1903 e se divorciaram em 1919. 

vi) O Ano Mirabilis - o último ano da doutorado (1905) - Einstein foi especialmente genial e produtivo. Neste ano Einstein publicou quatro artigos (para detalhamento dos artigos veja aqui neste link) que o tornariam famoso por suas proposições. Einstein havia terminado a graduação e não conseguido vaga como professor por mais que tentasse e devido ao envolvimento com Mileva Marić eles queriam casar e regularizar suas vidas. Pesou para sua pouca empregabilidade seu jeito com os professores da Escola Politécnica, por fim graças a indicação do pai de um amigo ele conseguiu um emprego no Escritório de Patentes. Apesar de não ser um emprego de professor e de pagar pouco, foi de grande ajuda na medida que permitia a Einstein a se concentrar nos problemas de Física e vários dos experimentos propostos tinham relógios e trens. Esses itens estavam na proximidade do Escritório e Einstein os via todos os dias de trabalho.

vii) De 1905 a 1917, seus principais trabalhos foram publicados, Einstein continuou seu trabalho nos anos seguintes, porém depois que publicou seu artigo que descrevia a teoria da relatividade geral (tentativa de juntar a relatividade especial e a lei da gravitação universal de Newton), Einstein tentaria trabalhar no que foi chamado a teoria do campo unificado (teoria da gravitação generalizada). Passou 30 anos rejeitando a mecânica quântica que surgira graças aos seus trabalhos e de outros físicos e tentando formular sua nova teoria. Nesses 30 anos Einstein mesmo não apoiando a mecânica quântica, contribuiu significativamente ao questioná-la com vários experimentos e questionamentos. A mecânica quântica e a teoria do campo unificado foram dois modelos divergentes que tentavam explicar o universo pelos anos de 1920. 

viii) Um dos grandes inspiradores de Einstein foi matemático e físico escocês James Clerk Maxwell que demonstrou que os campos elétrico e magnético estão relacionados e se movem pelo espaço em ondas. Einstein sonhava em fazer algo similar pela Física dando a forma teórica de entender a natureza. Einstein que nos seus anos iniciais foi inovador desprezando certos conceitos amplamente aceitos derrubados por seus artigos e corroborados por experimentos somente anos a frente. Porém depois de agarrar com unhas e dentes às bases do que seria a teoria do campo unificado, Einstein tornou-se conservador e até teimoso em seus pressupostos físicos. Mesmo dando contribuições em várias áreas não avançou mais como avançara nos anos anteriores. Alguns físicos compartilhavam do ponto de vista de Einstein porém o abandonaram diante da não comprovação de seus pressupostos e teorias.

ix) Uma vez que não concordava com a mecânica quântica, Einstein igualmente não se aprofundou na Física Nuclear com suas novas partículas. Não creio que fosse porque tais partículas iriam lançar mais complexidade na sua teoria de tudo, mas porque ele não conseguindo resolver o primeiro grande obstáculo não iria se aventurar no totalmente estranho mundo subatômico.

x) Einstein foi extremamente solidário a todo refugiado expulso da Alemanha nazista. Tanto que os físicos nucleares húngaros que cientes do poder de uma bomba atômica o procuraram para alertar o governo americano de que caso os alemães descobrissem tal poder a guerra estaria perdida. Einstein alertou o presidente americano e daí surgiu o Projeto Manhattan que produziu as primeiras bombas atômicas mas Einstein não teve qualquer outro papel no seu desenvolvimento.

A visão econômica e política e religiosa de Einstein deixarei para outro post. Pois este já está longo e a parte restante requer algo mais elaborado.

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Referências:

Einstein, sua vida, seu universo

Steve Jobs 

Albert Einstein na Wikipedia