Mostrando postagens com marcador C. S. Lewis. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador C. S. Lewis. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 14 de abril de 2022

O abraço

Eu podia resumir e dizer: "Abrace !" Abrace quem você ama e abrace bem. Depois de alguns abraços a pessoa abraçada poderia achar estranho o apego inesperado e você mesmo depois do terceiro veria que é "só um abraço". Sempre poderá ser só um abraço.

Mas há abraços e abraços. Há momentos entretanto que acontece "O Abraço". Em geral quando há muita tensão, questões não resolvidas, situações ansiadas. Quando acontecem esses momentos por uma estreiteza emocional, seja por ser muito jovem ou por simplesmente não saber lidar com aquele misto de emoções, as reações tendem a ser as mais variadas indo do riso ao choro passando até pelo completo atordoamento por variações bruscas de pressão.

 Bem sem exemplos fica difícil visualizar não é ? Então vamos a alguns exemplos ... 

Exemplo 1 - Este exemplo viralizou, foi espontâneo, impactante e muito fofo.

Exemplo 2 - Este foi contagiante... e todo mundo ficou emocionado.

O exemplo de decepções amorosas eu vou deixar de forma. Seria o "não abraço". Este último (quando não há correspondência entre as partes) são profundamente marcantes. São muito poderosos e há toneladas de poemas, livros, músicas e atos extremos decorrentes deles. Um momento desses pode transformar para sempre uma pessoa, a dor da rejeição, não saber lidar com o misto de emoções deixa a pessoa refratária a outros relacionamentos. Por uma traço estranho da personalidade humana esses momentos de decepção tendem a ser muito mais marcantes do que momentos bons, principalmente se referentes a nossas relações não parentais ou familiares. Mas não é disso que eu quero falar.

As relações familiares e parentais e as relações com amigos são as que rendem os melhores e mais marcantes abraços, pois são abraços comuns (em geral é possível abraçar familiares e amigos com frequência). E quando não são tão comuns adiciona-se saudade ao abraço que é uma felicidade adicional.

Não posso deixar de mencionar que C. S. Lewis em seu livro "O peso da glória", que é uma coletânea de artigos, tem um artigo homônimo em que ele tenta descrever a glória do cristão em comparação às promessas paradisíacas de diferentes religiões. Você pode pensar que a promessa aos cristãos é o paraíso, lugar de prazer e abundância, onde não haverá dor ou choro. C. S. Lewis ressalta que estas promessas não menores em relação à suprema promessa, que é ser reconhecido por Deus e ser abraçado por ele como filho amado no qual Deus Pai se deleita, da mesma forma como foi testemunhado a respeito de Jesus Cristo. Sim, para C. S. Lewis a maior promessa cristã é Deus acertar, reconhecer e orgulhar-se do cristão da mesma forma como quando um pai aceita, reconhece e se orgulha de uma criança filha sua.

 

Pois bem, creio que vi semelhança entre este momento divino de reconhecimento representado em um abraço entre duas pessoas comuns. Veja bem não é a mesma coisa, eu vi somente uma linda semelhança. A representação veio no filme Unforgiveble (2021). Os roteiristas Peter Craig, Hillary Seitz e Courtenay Miles conseguiram o feito ao esconder na trama do filme o momento em que uma condenada por assassinato de policial busca rever a irmã após ficar 20 anos na cadeia. Para realidade americana, um condenado em um caso de assassinato de policial ter sido sentenciado a 20 anos de cadeia é uma raridade, normalmente é condenação é de morte ou de prisão perpétua. Mas por atenuantes neste filme específico a protagonista foi libertada em condicional. Sandra Bullock faz o papel de Ruth Slater, órfã que criou a irmã (igualmente órfã) de 5 anos, quando o assassinato ocorre e suas vidas são mudadas. Ruth é presa e condenada. Katherine é encaminhada para sistema de adoção e não tem mais nenhum contato com Ruth. 

Após 20 anos de cadeia, Ruth tem um recomeço difícil em liberdade condicional e inicia uma luta para rever a irmã. Ruth tem uma rotina difícil para trabalhar e se manter. Apesar de todas as dificuldades, Ruth ainda sofre com a perseguição dos filhos do policial morto.

Para chegar ao dito abraço, "o abraço", e não dar muitos spoilers, então no final do filme - Katherine - irmã de Ruth (agora com mais de 25 anos, da qual foi separada aos 5 anos e que não teve mais nenhum contato com ela) é levada a ficar em no mesmo espaço aberto em que Ruth está. Katherine a vê, e sem que ninguém diga nada, Katherine se dirige a Ruth... numa cena tocante mas sem exageros, Katherine a reconhece e espontaneamente caminha até ela e a abraça com um abraço do tipo que desmonta, que desestabiliza e que realiza. Este momento é um plot twist sem igual. É a coroação de um esforço gigantesco de Ruth para ter um mínimo de vida que havia perdido.  

Ao ver o abraço final em Unforgivable, eu só pude ir abraçar os meus e lembrar que nossa vocação maior que é: um dia que não sabemos quando, mesmo em meio a lutas que podem nos destruir e esmagar, e  apesar de nossos erros e falhas, ansiamos, pelos méritos do sacrifício de Jesus, ser vistos por Deus e ser abraçados por ele como filhos amados nos quais ele se apraz.