segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Formula 1 2021 - São Paulo - SP

Apesar de ter ido a São Paulo diversas vezes a passeio, confesso que a viagem de 2021 tinha um significado diferente, pois seria a primeira para fora do Maranhão desde que a Pandemia de Covid-19 se iniciou. Quem ficou realmente em quarentena  sabe que foram momentos muito difíceis e que poder novamente planejar e fazer uma viagem é algo que devemos agradecer.

Pois bem,  feita  a decisão de realizar a viagem, o primeiro passo é comprar os ingressos,pois havia o risco de acabar, já que havia uma previsão de limitação em 50% da lotação máxima do circuito (a limitação tempos depois caiu) . Desta vez, os ingressos seriam digitais, podendo ser impressos em casa. Da minha parte, achei essa sistemática muito melhor do que você ter que esperar chegar pelo correio ou ter que ir buscar em algum lugar em São Paulo. Já passei por estas duas experiências, e com certeza, o ingresso digital é muito melhor.

Ao realizar a compra do ingresso, há as opções de lugares, cada um com o seu preço conforme a localização no circuito. Por duas vezes fiquei no Setor F (Hoje é chamado de setor R), que é logo após a curva do “S do Senna”, porém das últimas vezes acabei optando por ficar no Setor A.

O Setor R é mais caro, você tem um conforto um pouco maior, pois a arquibancada é coberta, porém a visão da pista é mais limitada. O Setor A, apesar de ser mais barato, possibilita uma visão da pista muito melhor, conseguindo acompanhar o início da reta principal, final da reta oposta e uma parte do miolo do circuito, além de poder ver a entrada dos boxes e um pedaço do pódio. Na parte que não  temos a visão , há telões (nesse ano colocaram maiores), assim você não perde nada.

´Ônibus que nos levou até o setor A

Apesar de não ser coberta, a arquibancada possui sombra proveniente de várias árvores ali existentes, então dependendo do horário que você chega, dá sim para se proteger do sol. Acredito que somando-se o custo com a visão privilegiada, o custo benefício do setor A é imbatível.

Esse ano havia também o diferencial de no sábado ocorrer a Sprint Race, modalidade de classificação criada para decidir o grid de largada da corrida de domingo. A Sprint Race é uma corrida menor (A de Interlagos tinha 24 voltas), com distribuição de pontos para os três primeiros colocados. Então,  ingresso deste ano dava direito a duas corridas!

O que chamou atenção na corrida de sábado, além do show de ultrapassagens de Lewis Hamilton, foi a brusca mudança de temperatura em pouco mais de duas horas. De um sol escaldante para um vento extremamente frio, sendo que quem tinha vestiu rapidamente seus agasalhos!


No tocante à chegada ao autódromo, há diversos meios, mas o mais eficiente sem dúvida é o transporte público (seja ônibus expresso e mais ainda, o metrô). No passado , já fui de táxi até Interlagos, entretanto além de ser caro, é sujeito aos engarrafamentos ao chegar no autódromo.

Esse ano a organização resolveu não disponibilizar os ônibus expressos. Esse tipo de transporte saia de lugares pré determinados da cidade e ia diretamente, sem paradas, até o autódromo, deixando exatamente nos portões de acordo com o seu ingresso. Esse é o meio mais tranquilo e cômodo de ir, e infelizmente esse ano não existiu.

Então fomos de metrô . Eu acho o metrô de São Paulo extremamente eficiente e seguro, o único problema é que para quem não está acostumado, é um pouquinho complicado de entender as conexões e sentidos, mas nada que alguns dias de prática não resolva. Existe uma estação chamada autódromo, a qual é a que usamos para descer e ir para Interlagos. 

Acontece que o setor mais próximo da estação é o G (uns quinhentos metros). Quem fica no Setor A, tem que caminhar uns três quilômetros até o portão ,sendo que uma das ruas é uma pequena subida. Neste momento é a hora de mostrar o preparo físico!

Para ajudar nessa questão, no domingo do dia da corrida, colocaram uma linha de ônibus especial, que tinha como ponto de partida a frente da estação de trem Interlagos, e no seu percurso passaria por todos os portões de entrada de todos os setores de ingressos do circuito. Não sei se o público da corrida sabia dessa opção, pois quando entramos no ônibus, o mesmo encontrava-se praticamente vazio. Com isso chegamos rapidamente na entrada do portão A.

Parte da visão do Setor A

Esse ano, por conta da Pandemia de Covid-19, foi exigido a comprovação de vacinação . Só que diferentemente dos demais eventos, a comprovação era feita por meio de um aplicativo, onde você anteriormente tinha que se cadastrar e enviar dados da vacinação (data, número do lote, fabricante, etc), para posteriormente atualizar esse aplicativo com seus dados e usá-lo como passaporte para adentrar o circuito.

Dentro do circuito, esse ano havia mais opções de comida nas barracas para venda.A organização veta grande parte dos alimentos que você tenta levar, já ocorreu de ter que jogar fora frutas que tinha levado, mas curiosamente, nesse ano que não levei nada, a revista pessoal nem questionou nada a respeito.

Ainda sobre alimentação, agora em 2021 havia para venda churrasco (só a carne), cachorro quente, hambúrguer e pipoca. Para beber havia água (em uma caixa de papelão parecendo aquelas de suco), refrigerantes e cerveja Heineken (patrocinadora da corrida). Os preços são salgados, mas por uma tarde dá para sobreviver. Os banheiros são limpos e organizados , porém acredito que poderiam haver mais, pois em alguns momentos formavam-se filas.

Existia também algumas barracas de venda de lembranças , camisas e bonés oficiais da Formula 1 e suas equipes. Acredito que os produtos estejam cotados em Libras e convertidos para o Real, pois um boné oficial da Equipe Mercedes custava R$900 , uma camisa da Equipe Ferrari custava R$1.200. Camisas comemorativas de Ayrton Senna custavam  R$350. 

Uma das barracas de venda de artigos oficiais 

Sobre a corrida, a mesma  foi fantástica. Acho que  das que lá estive somente não foi melhor do que a de 2008 (Aquela que Felipe Massa perdeu o título na última curva da última volta), mas com certeza, esse Grande Prêmio do Brasil de 2021 (Esse ano passou-se a chamar Grande Prêmio de São Paulo) foi o mais organizado dos que eu pude estar presente.

Percebi também uma grande presença de jovens e adolescentes de ambos os sexos. Não sei se é efeito da série da Netflix “Drive to Survive”, mas com certeza, o público do circuito ficou mais heterogêneo. 

Parte de trás da Arquibancada do Setor A

No mais, foi uma experiência fantástica. Quem gosta de automobilismo , aconselho fortemente a ir pelo menos uma vez acompanhar a Formula 1 de perto. Escutar o barulho dos motores e sentir o cheiro da gasolina sendo queimada é algo que só mesmo estando lá para vivenciar.

Além disso, indo assistir a corrida , temos a oportunidade de ir a São Paulo, cidade que ao mesmo tempo que assusta, encanta pelo seu gigantismo, contradições essas que me fizeram cultivar admiração por aquela cidade. Qualquer dia eu faço um post só sobre São Paulo, que curiosamente é a cidade fora do Maranhão que eu mais visitei!

Então, é isso, abaixo vocês podem ver mais algumas fotos que tirei durante o final de semana da corrida.

Escultura presente no Setor A

Visão do Setor A

Público invadindo a pista após o término da corrida




sábado, 2 de outubro de 2021

O avanço das IAs

Eu demorei um pouquinho a voltar a escrever sobre inteligências artificiais (IA) ou como costumam abreviar no inglês - Artificial Inteligência (AI) e confesso que tenho sido atropelado pelas novidades da área que não param de pipocar. No passado escrevi esses textos sobre inteligência artificial que você pode ver clicando aqui. Nesses textos tento demonstrar a variedade das áreas de aplicação de inteligência artificial. Pois bem soluções de inteligência artificial são aplicáveis em qualquer área. Segue abaixo algumas descobertas recentes e espero que você veja valor nesses avanços. Apesar dos exemplos que apresento aqui, saiba que o uso de inteligência artificial é amplo e irrestrito.

1. Hua Zhibing. Tive muitas dificuldades de checar devido a língua mas a informação é que Hua Zhibing é uma estudante virtual da Universidade de Tsinghua. Hua Zhibing apresentou-se no vídeo abaixo na rede social Weibo. Segundo dados de outros sites listados nas referências Hua Zhibing é "viciada" em literatura e arte desde que nasceu. É baseada no sistema de modelagem Wudao 2.0. Segundo Tang Jie, um dos principais desenvolvedores, Hua utiliza 1.75 trilhão de parâmetros para simular conversas, escrever poemas e entender imagens.

 

Sendo bastante sincero a barreira da língua não permitiu coletar informações sobre como anda o desempenho de Hua como aluna, se é o orgulho dos professores ou se está levando bomba em Semiótica II. Se o objetivo principal for o aprendizado, Hua pode se aplicar 24 horas por dia sem se cansar. podemos pensar em quanto tempo ela concluirá o curso ? Para mim é bem difícil descobrir tais informações pois as fontes foram ágeis em divulgar a criação de Hua mas extremamente sovinas em dar mais detalhes de sua performance.

2. A 10ª Sinfonia de Beethoven. O Instituto Karajan da Áustria incumbiu uma comissão para desenvolver uma IA que aprenderia a obra de Beethoven, identificaria tudo sobre seu estilo e a partir dos rascunhos da 10ª Sinfonia, finalizaria sua sinfonia incompleta. Seria o que podemos apontar como o mais aproximado da sinfonia que Beethoven faria. Dúvidas... veja no vídeo abaixo.

 

Como diletante amador em música, a 10ª Sinfonia soou bastante Beethoven como teria soado qualquer outro compositor. Somente ouvidos experientes e conhecedores a fundo da matéria poderiam apontar erros de estilo, andamento, composição ou algo do tipo. Para mim está aprovado. Aguardo ansioso a 11ª Sinfonia.

3.  GPT-3. As últimas novidades são relacionadas às áreas de desenvolvimento. A GPT-3 é uma IA aberta que promete converter linguagem natural em linguagem de programação. O que é uma avanço significativo depois das iniciativas de low-code (desenvolvimento com pouco código) ou no-code (desenvolvimento utilizando principalmente gráficos e composição de elementos) que prometiam abstrair as habilidades de desenvolvedores, diminuindo ainda mais a barreira de desenvolvimento. Pois bem a GPT-3 baixa ainda mais esta barreira permitindo a conversão de códigos diretos do inglês para a linguagem da Microsoft que viabiliza a conversão - a Power Fx. 

Esses avanços de IA em programação sempre deixa muita gente da área de TI em polvorosa pois mesmo o mercado de programação sendo relativamente atraente, as vagas estão sempre em risco em função de que um concorrente possa fazer mais, melhor e com menos custo, seja uma software house com uma solução pronta, seja um estagiário indiano. E de repente bum ! Algo assim pode mandar o desenvolvedor local, a software house e o estagiário indiano para aumentarem a frota de Uber da cidade.

4.Codex. A OpenIA Codex é a melhor IA que converte linguagem natural em linguagem de programação tais como JavaScript, Python e PHP entre outras. O modelo do Codex é o mesmo usado no Copilot do Github. OpenAI Codex é o descendente de outro modelo, o GPT-3, porém é especializado em receber como entrada texto corrido e a partir dessa entrada devolve um código funcional. Veja um exemplo abaixo.

Apesar das muitas vantagens apresentadas não encontrei muitos outros casos de usos nem do Codex, nem do GPT-3, mas eles deverão aparecer, principalmente se tiverem sucesso na resolução de problemas propostos. Às equipes de desenvolvimento de TI e áreas negociais restará capricharem no inglês para que tais ferramentas se provem. Mas não há como não admitir que tais avanços são dignos de nota e serão mais importantes ainda se um belo dia em vez de baixar uma IDE para escrever um código sua primeira opção seja baixa os módulos para só dar direcionamentos ao Codex e similares.  

 Referências:

1. Hua Zhibing:

https://www.odditycentral.com/technology/meet-chinas-first-ai-powered-virtual-university-student.html

https://epaper.chinadaily.com.cn/a/202106/10/WS60c1508ea31099a234356c12.html

2. A 10ª Sinfonia de Beethoven

https://tecnoblog.net/meiobit/447066/ia-conclui-10a-sinfonia-beethoven/

3. GPT-3

https://techcrunch.com/2021/05/25/microsoft-uses-gpt-3-to-let-you-code-in-natural-language/ 

4. Codex da OpenIA

https://openai.com/blog/openai-codex/

sábado, 28 de agosto de 2021

Antifrágil, de Nassim Taleb

Edição de 2014
Li "Antifrágil". Apesar de na minha avaliação ser um bom livro, eu não fiz uma leitura de qualidade, demorei muito na leitura, intervalando muitos dias na leitura dos capítulos. Creio que isso tenha prejudicado a leitura porém ainda assim é livro que merece um comentário mais demorado. Os capítulos não são tão longos ou excessivamente técnicos que dificultassem a leitura, foi mais falta de disciplina pessoal. Porém ainda assim vi virtudes no livro.

Antifrágil de Nassim Taleb foi publicado em 2012 e desde o primeiro momento trabalha as definições do seu arcabouço de termos que usa ao longo do livro. A principal definição é "Antifrágil" que ele revisita ao longo de todo o livro. Antifrágil não é o contrário de frágil. O contrário de frágil é robusto. Tudo que tem boa resistência ou resiliência pode ser classificado como robusto. Antifrágil é tudo que melhora com as dificuldades, crises, problemas, tudo que se beneficie de situações contrárias e difíceis. Ao percorrer os capítulos Taleb usa termos associados como mitridificação, hormese, convexidade, concavidade, iatrogenia, estratégia barbell, assimetria favorável, academicismo, senso comum, etc. Eventualmente Taleb cita o "cisne negro" termo que veio de outro livro dele "A lógica do cisne negro" (The black swan) lançado em 2007. Há uma ligação entre as duas publicações. Em "A lógica do cisne negro", Taleb trabalha principalmente aleatoriedade e imprevisibilidade. Basicamente deixa claro que por mais informações que temos há um eventos aleatórios que simplesmente não conseguimos prever tais como os cisnes negros. No passado todos os cisnes eram brancos até que apareceu cisnes negros evento que surpreendeu a todos e todo evento de grande impacto não deixa de ser um cisne negro como o ataque de 11 de setembro de 2001, a crise do subprime de 2008, ou pandemia do Covid19. Pois se fosse possível prevê-lo o evento teria sido pelo menos mitigado. 

Edição de 2020

Em "Antifrágil", Taleb tenta mostrar que a melhor forma de fortalecer a si próprio, fortalecer empresas, instituições e a sociedade é se expor a estresses (problemas, dificuldades, crises, etc) crescentes, graduais e contínuos. Essa exposição e mais a recuperação do dano, associado a opções de redundância levará a antifragilidade. Taleb afirma que virá uma evolução constante desses caos múltiplos de vida, luta e morte. No curto e médio prazo, os indivíduos se tornarão mais fortes, porém os indivíduos passarão pois não são eternos, mas no longo prazo a humanidade prevalecerá. Há vários exemplos no livro e vou citar só exemplo de que grandes incêndios em florestas são evitados pela ocorrência de pequenos incêndios frequentes em áreas pequenas que consumem o material mais combustível e que não se espalham e dessa frequência de baixa intensidade é que um evento maior não ocorre.

Como só temos uma vida e ela é finita, a nós nos interessa a nossa própria vida, assim Taleb indica a mesma receita: estressar o corpo e a mente, recuperá-los e repetir o ciclo. No que diz a vida pessoal Taleb vê com desconfiança inovações nos tratamentos de saúde que implicam em risco para os pacientes e benefício pessoal ou financeiro para os médicos. Cirurgias eletivas devem ser seriamente analisadas. Novos hábitos e tratamentos podem ser prejudiciais até que se confirmem realmente benéficos. Por exemplo: o tabagismo foi muito incentivado antes de provar realmente maléfico.

Taleb valoriza todas as antigas práticas das sociedades como práticas que permaneceram e que favoreceram a melhoria e a longevidade. Taleb é crítico ferrenho do academicismo que despreza o senso comum, conhecimento vindo da vivência e da tentativa e do erro (mentalidade Soviet-Harvard). Tais academicistas repetem continuamente que os problemas serão resolvidos com mais pesquisas e teorias, porém suas teorias não se verificam pela realidade aleatória do mundo.

Na verdade Taleb debocha e despreza experts, conselheiros, analistas de mercado, agentes de governo ou que trabalham em órgãos de governo que não estão comprometidos com suas decisões ou conselhos. Taleb cunha o termo "Síndrome de Stiglitz" em referência a Joseph Stiglitz que fez análise super favorável antes da crise do subprime de 2008. E pior além de levar ao erro e a prejuízos esses especialistas depois são laureados, reconhecidos e recompensados. Taleb parece aprofundar esta temática em seu novo livro de 2018 "Arriscando a própria pele" (Skin in the game) que não li, mas a associação é evidente.

Antifrágil vale a leitura !!

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Referências:

Antifrágil (Antifragile)

A lógica do cisne negro (The black swan)

Arriscando a própria pele (Skin in the game)

 

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Raposa em 2021


Em julho de 2021 fiz um passeio de barco no município de Raposa. Raposa é um dos quatro município da Ilha de São Luis, foi emancipado em 1994, separando-se do município de Paço do Lumiar. Raposa está na parte mais setentrional da ilha sendo banhado pelo Oceano Atlântico.

O passeio que fiz está bem popularizado entre a população e turistas que visitam a cidade sendo comercializado como pacote padrão por R$50,00 por pessoa. O passeio tem duração de 4 horas no barco com todos os protocolos sanitários e da Marinha sendo atendidos (colete para todos os participantes). Na hora da partida com maré baixa era visível a quantidade de dezenas de barco que fazem o passeio. Era um domingo no mês de férias então posso dizer que estava bem frequentado. Num outro dia e num mês de menos concorrência o passeio pode ser mais tranquilo.


O barco fez três paradas para os tripulantes banharem, fotografarem (fauna e flora exuberantes), comerem (sim o barco tem a estrutura para grelhar frutos do mar e preparar outros pratos, além de suprir bebidas e música ambiente mesmo com o barulho intermitente do motor) e ficarem um tempo pela areia. Como é um ambiente em efervescência há várias opções de passeios (barco, caiaque, jetski), percursos, tamanho do barco (há opções para mais de 30 tripulantes). 

Raposa era no passado uma colônia de pescadores e sua vocação marítima e pesqueira continua de modo que há atrativos da culinária local com peixes e mariscos bem como o itens da cultura pesqueira e artesanal. 


 

Como opção turística está bom e pode melhorar, seja aprimorando os serviços seja incluindo mais opções para atrair mais turistas, mas isto só o tempo dirá.

Fiz o vídeo abaixo resumindo o passeio.

 

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Einstein, sua vida, seu universo (parte 2)

A visão econômica de Einstein.

O livro descreve Einstein como um social democrata, por vezes rejeitando uma vida de ostentação, rejeitando também o modo de vida burguês (principalmente nos anos difíceis de início de carreira). Einstein passou por duas guerras mundiais. A primeira ele vivia na Alemanha. Sua vida profissional foi bem variada de 1901 até 1935 quando fixou-se em Princeton (EUA). Ele ficou no Escritório de Patentes de 1901 a 1908. Então rodou pela Universidade de Berna, Universidade de Zurique, Universidade de Praga, voltou para Zurique (Instituto Federal de Tecnologia de Zurique) e em 1914 foi para Berlim onde se tornou diretor do Instituto Kaiser Guilherme de Física (1914-1932) e professor da Universidade de Berlim, também se tornou um membro da Academia Prussiana de Ciências. Sua condição financeira foi sempre melhorando durante os anos, porém nos anos da primeira guerra a situação se tornou difícil devido a desvalorização do marco alemão. Einstein vivia na Alemanha, mas sua ex-esposa vivia na Suíça com os filhos, o que torna a vida bem difícil, nesta época ele já havia se envolvido com sua prima legítima divorciada e com quem se casaria e viveria com ele até a morte em 1936. Ou seja em todo esse tempo havia sempre alguém que cuidava da vida cotidiana e financeira de Einstein e assim ele poderia se dedicar a Física e estudos. Como exemplo o livro descreve a negociação de Einstein para Princeton. O principal negociante para a contratação de Einstein foi Abraham Flexner. A certa altura Flexner pergunta quanto Einstein gostaria de ganhar (anualmente) e ele respondeu: U$3000,00. Flexner fez cara de surpresa e Einstein rematou: "Daria para viver com menos ?" Então Flexner que esperava uma quantia maior devolveu: "Deixe-me tratar isto com a Sra Einstein". Depois da negociação com Elsa Einstein chegaram a U$10000,00 que foi reajustado depois que o financiador do Instituto de Estudos Avançados - Louis Bamberger, soube que as outras estrelas do Instituto ganhavam U$15000,00. Bamberger não aceitou que Einstein ganhasse menos que os outros. Apesar de ser só um exemplo, pela leitura do livro não podemos afirmar que Einstein fosse cuidadoso no trato com dinheiro. Não era perdulário ou esbanjador porém parece ser o tipo de preocupação que deixava para a Sra. Einstein cuidar. Depois que Elsa Einstein faleceu em 1936, a secretária de Einstein - Helen Dukas, deve ter herdado a função. Mas o livro não se aprofunda na visão econômica de Einstein, dá vislumbres ao relatar certos eventos como na negociação do seu divórcio de Mileva Marić. Pelo que encerro aqui esse tópico.

A visão política de Einstein

O livro destaca o principal traço político de Einstein é o pacifismo. Pacifismo do tipo que propunha desarmamento mundial e governo supranacional para coibir guerras, desobediência civil para não cumprir o serviço militar. Nos dias atuais o globalismo, "governança mundial" e mecanismos para coibir ou incentivar certas políticas em outras sociedades (que não a guerra) conta com certa simpatia por parte de grupos ao redor do mundo. Entretanto o pacifismo de Einstein foi se modificando ao longo do tempo, depois da primeira guerra era especialmente engajado na causa com organizações e manifestos pacifistas. Porém com a subida do partido nazista na Alemanha e com a Alemanha se rearmando, Einstein abandonou o pacifismo extremo e defendia que os demais países da Europa deviam se armar, defender-se e dissuadir a Alemanha. Einstein chegou a declarar, quando tinha fugido da Alemanha e estava temporariamente na Bélgica que se fosse jovem ele mesmo se alistaria para defender o país contra a Alemanha nazista. 

Como todo partidário que se afasta da causa e toma uma posição mais central e passa a ser rechaçado pelos movimentos mais extremos, assim Einstein passa a ser tratado pelos pacifistas e pelos não pacifistas. 

A sua associação com grupos pacifistas por vezes era aproveitada por grupos que apoiavam causas que Einstein discordava. Quase sempre, grupos que utilizavam o pacifismo como fachada tentava atrair Einstein para apoiar a causa comunista ou soviética. Segundo o livro, Einstein repelia qualquer movimento que implicasse na supressão de liberdade dos indivíduos, por isso nunca se aceitou visitar a União Soviética e na medida do possível se esquivava de grupos pró-soviéticos. Porém Einstein pelo menos nos 10 anos iniciais da Revolução Soviética aceitou o "sacrifício" que dirigentes soviéticos infligiam a população e a opositores políticos em nome da luta pela causa comunista contra o capitalismo. Quando viu que o sacrifício já tinha passado dos limites deixou a indulgência de mais esse experimento e condenou (atrasado) as práticas da União Soviética.

Einstein foi o catalisador que chamou atenção ao governo americano para a preocupação dos físicos nucleares húngaros (judeus húngaros refugiados) sobre o grande poder de uma bomba nuclear. A partir desse alerta os físicos húngaros foram recrutados e foi criado o projeto Manhattan que criou a primeira bomba atômica. Einstein não teve participação na construção da bomba, porém alertou o governo americano pois se a Alemanha desenvolvesse tal bomba a guerra seria mais longa e mais fatal.

Uma vez derrotada a Alemanha e todo o horror da Segunda Guerra Mundial em que as primeiras bombas foram lançadas com o prejuízo de milhares de mortes civis inocentes. Einstein voltou a falar sobre pacifismo e desarmamento, associou-se a outros cientistas para alertarem as pessoas sobre o perigo de uma guerra nuclear.

A visão religiosa de Einstein

Albert Einstein e Baruch Spinoza
 No aspecto religioso, Einstein sofreu como quando abandonou o pacifismo mais extremo. Einstein não era ateu, porém também não era teísta. O que lhe rendia ataques de ateus e de teístas de modo geral. O livro traz muitos fatos e eventos desse aspecto da vida de Einstein pois ao longo da vida ele foi se apegando ao seu legado judeu, sem porém abraçar o judaísmo. Quando ainda vivia na Suíça e havia fundado a Akademie Olympia junto com os amigos Conrad Habicht e Maurice Solovine. Na qual discutiam Física e Filosofia. Nesses encontros discutiam livros e pensadores tais como "The Grammar of Science", de Karl Pearson, "Analyse der Empfindungen" de Ernst Mach, "Wissenschaft und Hypothese" de Henri Poincaré, "A System of Logic" de John Stuart Mill, "Treatise of Human Nature" de David Hume e "Ethics" de Baruch Spinoza. O pensamento deísta de Spinoza foi o que mais próximo caracterizou o pensamento religioso de Einstein. Sendo que Spinoza foi, no seu tempo, expulso da sinagoga e rejeitado por cristãos. 

Como figura pública e também privativamente tratou com pessoas de todas as orientações religiosas e teve embates e homenagens de rabinos, bispos, pastores e ateus. Mas manteve-se firme em sua posição e em 1932, Einstein, quando morava em Caputh na Alemanha, escreveu e gravou seu credo, que resume sua visão religiosa. Einstein acreditava que Deus existe e criou o mundo mas não se relaciona pessoalmente com seu mundo criado. Há declarações elogiosas de Einstein acerca de Jesus em uma entrevista dada a George Sylvester Viereck (para ver a entrevista clique aqui). Einstein se dizia fascinado pela figura luminosa do Nazareno. Esse fascínio se refere ao Jesus histórico, porém não como Filho de Deus. Na mesma entrevista Einstein se diz também fascinado pelo panteísmo de Spinoza, além de rejeitar o livre arbítrio (defendido pelo judaísmo e várias correntes cristãs) e defender o determinismo. Este pensamento implica que os homens sempre agirão conforme as causas se que lhe apresentam e nunca de fato decidirão por si.

Para finalizar eis o Credo de Einstein, lido pelo próprio:


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Referências:

Credo de Einstein em alemão - https://www.einstein-website.de/z_biography/credo.html

Credo de Einstein traduzido para português - https://www.misteriosdouniverso.net/2015/02/o-credo-de-einstein.html

Entrevista de Einstein a George Viereck - https://documentop.com/what-life-means-to-einstein-an-interview-by-george-sylvester-viereck_59fadebd1723dd86ce10a2d9.html

The Grammar of Science - Karl Pearson (em inglês)

Analyse der Empfindungen - Ernst Mach (em alemão)

Wissenschaft und Hypothese - Henri Poincaré (em alemão)

A System of Logic - John Stuart Mill (em inglês)

Treatise of Human Nature - David Hume (em português)

Ethics - Baruch Spinoza (em português)

Einstein, sua vida, seu universo

domingo, 25 de abril de 2021

Einstein, sua vida, seu universo (parte 1)

Eu conclui a leitura de Einstein, sua vida, seu universo de Walter Isaacson. Li antes (em 2013) do mesmo autor, o livro chamado Steve Jobs. Posso dizer que são ótimas obras, completas, amplamente documentadas e como uma boa biografia o livro cumpre o que promete e aborda cada particularidade da vida do biografado.

Albert Einstein como físico teórico poderia ter pouca coisa a ser dita sobre ele, mas como gênio e celebridade (apesar de físico teórico) foi gerado um vasto acervo de informações, artigos, publicações, livros, biografias autorizadas e desautorizadas e cartas. Some-se a isso, foi descoberto um conjunto de cartas e documentos encontrados nos anos 1980 que lançaram novas luzes sobre eventos do passado.

O tijolo do Walter Isaacson, de 696 páginas, não pode ser adequadamente resumido neste post simples. Como de outras vezes ressalto que meus posts sobre livros, filmes, séries são recortes que explicitam aspectos que eu achei importantes e por isso resolvi registrar. Para algo mais completo e abrangente há toda a bibliografia do livro e muitas referências que podem ser achadas na internet. A obra em si que por mais completa que seja não deixa de ser um recorte. Então meu post é um ultra-hiper-super-recorte do recorte.

Ressalto ainda que há várias resenhas sobre o livro já dão uma visão curta do que foi a vida de Einstein, então vou abordar só que acho realmente importante.

i) Isaacson começa sua obra com o que há sobre a família de Einstein, sua infância e adolescência. Já aí deixa bem claro que Einstein se torna questionador, insolente, contrário a todo tipo de cerceamento da liberdade de expressão e pensamento e contrário à autoridade e obediências em geral. Então mesmo o nazismo longe de existir ele rejeita a rigidez e o militarismo alemão. Ao longo de toda a obra, também salta aos olhos os hobbies de Einstein que eram tocar violino, fumar cachimbos e charutos bem como velejar.

ii) Aos 16 anos, Einstein força a saída de Munique e vai concluir os estudos na Suíça. Aos 17 renuncia a cidadania alemã e fica apátrida até 1901. Einstein completa seus estudos na Suíça, de 1895 a 1896 completa o ensino secundário e de 1896 a 1900, o curso para professor de Física pela Escola Politécnica de Zurique e o doutorado de 1901 a 1905. 

iii) A indisposição e insolência em relação aos professores e superiores, vai lhe prejudicar para conseguir uma vaga nas instituições de ensino como professor.

iv) Einstein tinha grande poder de concentração, o que o afastava de relacionamentos mais pessoais, porém isto era totalmente flexível, para tratar de temas de seu interesse e com os amigos que fez (sim, Einstein conseguia ser caloroso com amigos e galanteador com mulheres) tal concentração o ajudava com experimentos e resolução de problemas, porém quando conveniente se afastava dos problemas mais prosaicos e cotidianos. Em geral, Einstein atendia pedidos de estranhos e até de instituições, o que lhe prejudicou inúmeras vezes durante sua vida pois em boa parte delas ele não fazia ideia do que as instituições defendiam. Ele era muito desatento com relação a pequenos itens e ao cuidado pessoal. Chaves, carteiras, casacos esquecidos com frequência, cabelo esvoaçante por cortar, roupas com algum desalinho. Inúmeras vezes Einstein saia de casa ou do lugar onde estava hospedado à pé, já que ele não quis aprender a dirigir automóveis e não sabia como voltar pois passou boa parte do caminho imerso em pensamentos de modo a não prestar atenção no percurso que estava fazendo.

 

v) Einstein conheceu Mileva Marić, sua amiga na graduação com quem partilhava ideias e trabalho. A amizade evoluiu para um envolvimento sentimental. Einstein teve 3 filhos com Mileva (a primeira filha - Leisel -  nascida antes do casamento, foi entregue para adoção. Não se sabe o paradeiro de Leisel). Mileva não conseguiu ser aprovada no curso. As razões foram variadas e não é possível afirmar com certeza. Pode ter sido por ser mulher - algo raro (mulheres na graduação em Física) à época, seja por dificuldades pessoais - ela era sérvia e vivia longe da família. Mileva terminou tendo que cuidar dos filhos e da casa. A relação com Einstein se deteriorou. Eles casaram-se em 1903 e se divorciaram em 1919. 

vi) O Ano Mirabilis - o último ano da doutorado (1905) - Einstein foi especialmente genial e produtivo. Neste ano Einstein publicou quatro artigos (para detalhamento dos artigos veja aqui neste link) que o tornariam famoso por suas proposições. Einstein havia terminado a graduação e não conseguido vaga como professor por mais que tentasse e devido ao envolvimento com Mileva Marić eles queriam casar e regularizar suas vidas. Pesou para sua pouca empregabilidade seu jeito com os professores da Escola Politécnica, por fim graças a indicação do pai de um amigo ele conseguiu um emprego no Escritório de Patentes. Apesar de não ser um emprego de professor e de pagar pouco, foi de grande ajuda na medida que permitia a Einstein a se concentrar nos problemas de Física e vários dos experimentos propostos tinham relógios e trens. Esses itens estavam na proximidade do Escritório e Einstein os via todos os dias de trabalho.

vii) De 1905 a 1917, seus principais trabalhos foram publicados, Einstein continuou seu trabalho nos anos seguintes, porém depois que publicou seu artigo que descrevia a teoria da relatividade geral (tentativa de juntar a relatividade especial e a lei da gravitação universal de Newton), Einstein tentaria trabalhar no que foi chamado a teoria do campo unificado (teoria da gravitação generalizada). Passou 30 anos rejeitando a mecânica quântica que surgira graças aos seus trabalhos e de outros físicos e tentando formular sua nova teoria. Nesses 30 anos Einstein mesmo não apoiando a mecânica quântica, contribuiu significativamente ao questioná-la com vários experimentos e questionamentos. A mecânica quântica e a teoria do campo unificado foram dois modelos divergentes que tentavam explicar o universo pelos anos de 1920. 

viii) Um dos grandes inspiradores de Einstein foi matemático e físico escocês James Clerk Maxwell que demonstrou que os campos elétrico e magnético estão relacionados e se movem pelo espaço em ondas. Einstein sonhava em fazer algo similar pela Física dando a forma teórica de entender a natureza. Einstein que nos seus anos iniciais foi inovador desprezando certos conceitos amplamente aceitos derrubados por seus artigos e corroborados por experimentos somente anos a frente. Porém depois de agarrar com unhas e dentes às bases do que seria a teoria do campo unificado, Einstein tornou-se conservador e até teimoso em seus pressupostos físicos. Mesmo dando contribuições em várias áreas não avançou mais como avançara nos anos anteriores. Alguns físicos compartilhavam do ponto de vista de Einstein porém o abandonaram diante da não comprovação de seus pressupostos e teorias.

ix) Uma vez que não concordava com a mecânica quântica, Einstein igualmente não se aprofundou na Física Nuclear com suas novas partículas. Não creio que fosse porque tais partículas iriam lançar mais complexidade na sua teoria de tudo, mas porque ele não conseguindo resolver o primeiro grande obstáculo não iria se aventurar no totalmente estranho mundo subatômico.

x) Einstein foi extremamente solidário a todo refugiado expulso da Alemanha nazista. Tanto que os físicos nucleares húngaros que cientes do poder de uma bomba atômica o procuraram para alertar o governo americano de que caso os alemães descobrissem tal poder a guerra estaria perdida. Einstein alertou o presidente americano e daí surgiu o Projeto Manhattan que produziu as primeiras bombas atômicas mas Einstein não teve qualquer outro papel no seu desenvolvimento.

A visão econômica e política e religiosa de Einstein deixarei para outro post. Pois este já está longo e a parte restante requer algo mais elaborado.

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Referências:

Einstein, sua vida, seu universo

Steve Jobs 

Albert Einstein na Wikipedia

domingo, 7 de março de 2021

A CODA de Ray Bradbury

Tempos passados eu consumi algum material sobre o mercado editorial, principalmente alguns vídeos do canal  "Projeto Escrita Criativa". Inclusive escrevi lateralmente algo a respeito do mercado editorial neste post (Silver Linings Playbook - O Lado Bom da Vida - contém SPOILERS). Justamente por isso quero voltar ao assunto depois ao ler Farenheit 451 de Ray Bradbury publicado pela editora Biblioteca Azul. Farenheit 451 é um distopia publicada em 1953. Que ganhou duas adaptações para o cinema e recentemente teve um "revival" devido à polarização política atual, apesar de na trama de Bradbury não haver quase nenhuma disputa política. Há sim, normas que consideramos absurdas mas que parecem ter sido escolhas feitas por aquela sociedade do livro que optou por uma "vida simples" abrindo mão de tudo que a levaria a "sofrer". E na história "vida simples e fuga do sofrimento" significava evitar tudo que fosse complexo, que requeresse pensamento crítico, relacionamento pessoal mais profundo e optaram por uma vida passiva, consumista, drogada e de puro entretenimento. Parece com algo que você vê atualmente ? Eu fiquei me perguntando como uma sociedade dessa se sustentava ?

Pois bem voltando ao tema do post, ao final do livro, terminada a história do livro, há uma "CODA" !
Você não sabe o que é uma coda ? Eu também não sabia. Coda é um termo da área artística e significa o que está abaixo:

No final do livro havia uma coda. Havia uma coda no final do livro. 
E a coda não tratava nada sobre a história em si, mas sobre como pessoas de todos os tipos e lugares entravam em contato com o autor, assediando-o, para ele modificar suas histórias conforme seus interesses.
Ray Bradbury
Bradbury abre seu coração sobre sobre as mais diferentes pressões que lhe chegavam pedindo alterações em seus livros, pressões de leitores, de editoras, de instituições sugerindo alterações sobre como tornar a história mais ao seu pendor, nem que para isso a história fosse empobrecida, desvirtuada, desfigurada, deformada. E num desabafo ele manda às favas todos aqueles com suas pedidos sem sentido, sem alinhamento com a história. Demandas estranhas, alienígenas, sem o traço criador do autor. A coda é um desabafo tentando dissuadir e mostrar quão inconveniente é pressionar um autor para alterar sua criação. Só porque você leu não deve sugerir mudanças como se o escritor fosse um decorador que você contratou para decorar sua sala, como se fosse um profissional contratado para lhe entregar um produto.
 
"...para o quinto dos infernos"
Bradbury literalmente age "...Despachando o conjunto de idiotas para o quinto dos infernos". Para Bradbury, tal atitude assemelha-se aos bombeiros de seu livro Farenheit 451. É uma atitude incendiária, destrutiva. Bradbury deixa claro que sua obra não é negociável. Talvez porque em seu tempo e devido sua história pessoal e claro, devido à posição que havia galgado, ele não aceitaria mudanças, não flexibilizaria situações, personagens e nem sacrificaria seu imaginário porque alguém gostaria que algo diferente acontecesse em suas histórias.
Veja que Bradbury já era famoso e calejado e podia sim fazer tal desabafo, mas o que podemos dizer de novos escritores não publicados e pouco conhecidos ? Para estes a tais sugestões tem outro peso e dificilmente poderão se impor ante a exigências de mudanças.
 
"...Rangendo meus pré-molares até esfarinhá-los"
Para se ter ideia do quão variados são esses achaques uma universidade lhe comunicou que dificilmente ousaria encenar uma peça "Leviathan 99", pois não havia nenhuma mulher nela ! A universidade temia que uma organização feminina iria atacá-los com tacos de beisebol se eles  tentassem  tal apresentação. Bradbury furioso rangendo meus pré-molares até esfarinhá-los, ironizou a situação informando que não mais poderiam apresentar "Os rapazes da banda" (só homens), nem "The women" (só mulheres) nem as peças de Shakespeare que originalmente até os papéis femininos eram desempenhados por homens e que quase todas as boas falas são de homens.

Escrevam seus próprios livros
Nós como consumidores e leitores de conteúdos jamais teremos ideia de tudo que ocorre no processo de produção de obras em geral. Todos os fatores que concorrem para torná-los bons, ruim, ótimos, inovadores, pífios, medíocres, excepcionais, etc. Pois cada elemento envolvido no processo atua de modo a modificar o produto final. Então se hoje temos obras com as quais nos encantamos, criadores, autores que nos surpreendem devemos sim reconhecer o talento e deixá-los ter sua liberdade e licença poética para se aventurar em suas criações e se nada lhe agradar... siga o conselho de Bradbury: "Escrevam seus próprios livros !!" e assim você terá uma criação que será sua imagem e semelhança. 

No parágrafo final da coda Bradbury faz a seguinte analogia com uma partida de beisebol:
 
"Todos vocês, juízes, voltem para as arquibancadas. Árbitros, para os chuveiros. A partida é minha. Eu arremesso, eu rebato, eu apanho. Eu corro as bases. No poente, ganhei ou perdi. No nascente, saio novamente, fazendo a velha tentativa. E ninguém pode me ajudar, nem mesmo vocês."

Última página da coda