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segunda-feira, 24 de março de 2025

A Firma - livro vs filme



O Livro

O Filme

Recentemente finalizei a leitura do livro A Firma do John Grisham e ao final do livro e me propus a assistir o filme A Firma (1993) estrelado por Tom Cruise e Jeanne Tripplehorn e dirigido por Sydney Pollack. Bem não há como não fazer comparações entre as obras. Adianto, mesmo sabendo que o livro foi publicado em 1991 e o filme foi apresentado em 1993, que mencionarei spoilers de ambas as obras.

Pois bem, o livro é muito bom, uma trama do mundo de advogados muito bem escrita e claro há alguns furos mas o livro por sua possibilidade de se estender na construção dos personagens e no desenvolvimento da trama tem muito mais recursos para se sobrepor ao filme. Mas o que me levou a escrever o post é que neste par específico livro/filme é que a adaptação do livro para o filme está cheia de divergências tanto no início, como no meio e no fim da obra. Ao contrário de algumas outras obras como O Diabo Veste PradaSilver Linings Playbook em que o filme não foge excessivamente do livro, mas em A Firma há muitas divergências. Vamos a elas.

No livro, o protagonista Mitch McDeere (Tom Cruise) é um brilhante formando de direito (Harvard Law School) que é selecionado e contratado pela Bendini, Lambert e Locke uma pequena firma de advogados, especializada no ramo tributário e sediada em Memphis (para os americanos a mudança de Cambridge para Memphis é significativa). A contratação no livro é mais cadenciada, com algumas etapas e no filme é muito avassaladora com Mitch praticamente deslumbrado aceitando a proposta. Na verdade a Máfia é a dona da firma.

Os sócios da firma.

No livro, Abby McDeere (Jeanne Tripplehorn) namorada/esposa de Mitch mantém atividade como professora em Memphis enquanto que no filme ela se torna uma esposa premium como são todas as esposas dos demais advogados da firma, no filme as esposas são meios de manter os maridos na linha e satisfeitos. No livro, pelo menos Abby tentar ter uma vida além de Mitch.

No livro, a relação de Mitch com seu irmão Ray, que está preso, é bem mais significativa e intensa. Ray é um gênio poliglota, mas no filme ele nem é sombra do que é no filme. No filme, Ray (personagem de David Strathairn) é muito figurante e sem expressão. Já no livro ele tem participação importante na fuga final. A libertação de Ray é um pontos inegociáveis entre Mitch e o FBI. No livro e filme a libertação se dá de forma diferente. No livro é uma fuga permitida, no filme é uma libertação que os espiões da Máfia ficam sabendo e que é um claro indicativo de que Mitch não está sendo se comportando como a firma deseja.

No livro, Mitch mesmo trabalhando exorbitantes 100 horas semanais vai gradativamente desconfiando e investigando suas suspeitas quando é contatado pelo FBI. A relação de Mitch com o FBI é extremamente conturbada, sem confiança de ambas as partes. O FBI é atrapalhado, descuidado e não confiável deixando o acordo com Mitch vazar. No filme, o FBI é de confiança apesar de pressionar Mitch.

No livro, Mitch consegue trabalhar com uma equipe paralela formada principalmente por Tammy Hemphill (Holly Hunter), Abby McDeere, Ray McDeere. No filme a equipe é reduzida e com papeis diferentes. No livro, Abby não tenta seduzir o Avery Tolar (Gene Hackman) que é uma parte bem patética do filme pois Avery sabe que a tentativa de Abby é somente para ajudar Mitch. No livro, Abby tem um papel importante ao fingir cuidar da mãe mas que na verdade ela fica nos bastidores viabilizando os preparativos para a fuga. Ao fingir cuidar da mãe Abby deixa Mitch sozinho e assim ele não tem que se preocupar com a segurança dela, pois a firma sempre ameaça as esposas para forçar os advogados a manterem o contrato. 

Em ambos, a firma é sucessivamente enganada apesar da muita vigilância, pressão, ameaças sobre os advogados.

Mas no desfecho é que a diferença se aprofunda. No livro, a gang de Mitch consegue fugir em um barco para as ilhas caribenhas, com muito dinheiro roubado da firma e ficarão escondidos e fora do radar por longos anos. O dinheiro do acordo com o FBI ele deixa para a família de Abby. A fuga ocorre sob muita tensão, apreensão e caçada tanto do FBI quanto da Máfia que é a verdadeira dona da firma de advocacia. Já no filme o final é bem insosso com Mitch brigando e vencendo um capanga e o chefe da segurança da firma. Ele entrega os papeis da firma ao FBI (cumprindo sua parte no acordo) que vai poder processar a firma por fraude postal e ele consegue continuar dentro dos EUA sem perder a sua licença de advogado, pois ele não quebra o acordo cliente-advogado, sem ser morto, como se fosse um cidadão cumprindo seu dever.

No livro, o suspense e o desenrolar dos fatos são muito mais interessantes, dinâmicos e ressaltam a esperteza da Mitch e seu grupo, enquanto o FBI faz um papel bem abaixo da média, já a Máfia e a firma continuarão matando os sócios que pisarem fora da linha. No filme, a grupo de Mitch é menor e menos ativo, o FBI não é descredibilizado e a Máfia é fraca e sem recursos fora do mundo da firma. 

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Tops 2024


O que teve de melhor no ano passado. Minha lista de livros, filmes e séries.

Top 6 melhores livros lidos em 2024.
 
As Esganadas
 
1. As Esganadas, de Jô Soares - Tinha há bastante tempo o eBook - As Esganadas do Jô Soares. É um livro leve de um serial killer que mata gordinhas devido a traumas da infância. Jô Soares como um poliglota espalha termos, frases, palavras nos mais diversos idiomas - até em latim - mas sem perder a verve cômica com um pé na realidade, pois o livro aborda fatos e personagens históricas. 


Coração de Cachorro
2. Coração de Cachorro, de Mikhail Bulgakov - Também em eBook, este livro foi censurado no antiga URSS e conta a história de Bolinha - um cachorro muito cachorro - grato pela mão que o alimenta, de repente trocam seu cérebro pelo cérebro de homem muito ruim, pronto, Bolinha que gradativamente vai se humanizando - no pior sentido - torna-se uma pessoa insuportável e que trai seus donos usando o regime soviético contras os mesmos, até que o ambiente escala a uma situação insustentável e uma medida extrema é indicada - os donos recolocam o cérebro de Bolinha de volta... que alívio !


O Diabo Veste Prada
 
3. O Diabo Veste Prada, de Lauren Weisberger - Depois de ouvir este audiobook, aproveitei para assistir ao filme homônimo de 2006, estrelado por Anne Hathaway e Meryl Streep. Como sempre o livro é muito melhor até mesmo o desfecho ao qual o filme não é fiel. O livro conta a história no mundo da moda de Andy Sachs uma recém formada que aceita ser torturada num trabalho de extrema exigência pessoal, salário baixo mas que ao fim promete conexões, colocações, presentes, e eventos promissores. Andy Sachs resiste bravamente até que consegue se livrar de Miranda Priestly, sua chefe que é uma mistura de chefe que extrai todo oxigênio das pessoas com as quais trabalha, não fica claro se por uma alta arrogância, por preguiça ou simplesmente porque ela precisa ser servida. Apesar do ambiente de trabalho tóxico, é um excelente livro, vale a leitura.


Em Algum Lugar Nas Estrelas
4. Em Algum Lugar Nas Estrelas, de Clare Vanderpool - Eu li este livro em sua versão muito bem acabada, muito caprichada e conta uma história linda de dois garotos solitários em uma escola internato - um que perdeu a mãe e um outro que perdeu um irmão. Eles passam por uma grande aventura cheia de perigos e surpresas, mas descobrem o cuidado, a fidelidade entre amigos e respostas.

Os Litigantes
 
5. Os Litigantes, de John Grisham - Ouvi este audiobook e de cara fiquei torcendo pelos azarões da Finley & Figg, uma empresa de advocacia de dois advogados velhos, ultrapassados, sem perspectiva de futuro que vivem de advogar casos rápidos de acidentes automobilísticos e divórcios mas que são premiados pela chegada de um novo advogado à equipe - David Zinc. Zinc deixa uma grande firma e um grade salário para trabalhar com "gente de verdade" e não para grandes empresas. Esta mudança súbita deixa a vida do próprio Zinc de pernas para o ar, bem como da Finley & Figg, mas de modo positivo. A história é bem humorada e é um convite à aventura e uma fuga de uma vida formal sem emoção.


O Homem de Giz
 
6. O Homem de Giz, de C. J. Tudor - Eddie e seus amigos passaram há 30 anos atrás por um evento traumático - um assassinato trágico que afetou sua infância/adolescência. O livro alterna os eventos nos dois tempos, mas de repente cada um começa a receber cartas com um homem de giz enforcado, o mesmo código que a garotada usava na época do assassinato. Assim em meio a este "revival", surpresas, revelações, reviravoltas a história transcorre e surpreende até o final.

Top 9 filmes vistos em 2024
Títulos originais dos filmes com o ano da produção, porém assistidos em 2024. Fora de ordem de preferência pessoal. 

1. The Babysitter (2017). Filme divertido misturando humor negro, adolescência apaixonada mais desenrolada. A audiência vai se identificar com o adolescente de 12 anos dividido entre a aventura e a paixão por sua "babá" - 12 anos está meio grandinho para ter uma babá - mas perdoado esse exagero a coisa segue cheia de surpresas, plot twists graças aos problemas que ocorrem e o jogo de cintura de Cole (o adolescente).  A babá é o sonho de um adolescente, ela é bonita, simpática, divertida e descolada. Vale a pipoca.

2. Beyond the Infinite Two Minutes (2020). Este é um filme de uma simplicidade típica da genialidade. O conceito é muito bem bolado e inusitado. Kato um dono de café tem sua TV mostrando o 2 próximos minutos no futuro. As implicações disso do ponto de vista da execução requer o controle absurdo de cada cena, mas para a audiência que não precisa se preocupar com a execução ainda sim é interessante pelo desenrolar que 2 minutos no futuro causa nas ações de cada um que chega ao café de Kato. Vale a pipoca.

3. Run (2020). Este esconde o engodo. Jamais esperaria tal trama de uma mãe superprotetora e dependente. A reviravolta ocorre, é inevitável, e ao final tem uma vingança. Eu achei exagerada e até cruel. Quem sofre não esquece não é ? A protagonista sofre muito e em meio ao engano, à suspeita, à falta de confiança, ela supera. O filme vale pelo inesperado.

4. The Artifice Girl (2022)Este é um ótimo filme dentro da sua temática - ficção científica e inteligência artificial. É conciso, baixo orçamento, excelente roteiro. Talvez a trama não tenha feito mais sucesso pois envolve abuso de crianças que é um assunto indigesto. A protagonista é uma menina artificial que serve de isca para pedófilos. Mas o filme em si é muito bem feito e desenvolvido. Vale muito a pipoca.

5. 12th Fail (2023).  Este é daqueles filmes de superação. Superar a si próprio e a um grupo concorrente. Problema que num país superpopuloso, como a Índia, grupos concorrentes são sempre superlativos. Manoj além de superar sua pobre educação, sua pobre condição de sustento tinha que superar uma quantidade exorbitante de concorrentes. E ele consegue !! Com uma perseverança sem igual e dificuldades que pareciam impossíveis. O filme é baseado em fatos reais e vale pela superação. Todo concurseiro devia assistir este filme.

6. American Fiction (2023)É só uma ficção mas é muito próxima da realidade. É um filme sobre escritores. Este grupo de criaturas é ao meu ver um grupo muito especial pois são os criadores originais de muitas sagas, ficções, realidades que preenchem o imaginário da humanidade. Pois bem, o protagonista escreve um bom livro, de qualidade mas que não faz sucesso. Mesmo sendo negro se vê cerceado por seus alunos e colegas. Então ele escreve sob pseudônimo um livro totalmente avesso aos seus princípios e cheio de preconceitos. O livro é super sucesso e ele se vê obrigado a assumir o papel do personagem-escritor que ele abomina. O filme nos lança a questionar a realidade e o quanto o sucesso, prestígio e dinheiro estão moldando, modificando e invertendo nossos valores.

7. The Holdovers (2023). Além de ótimo filme este foi muito premiado e posso dizer merecidamente. Ele tem a mistura desamparo e exclusão e a união, a amizade, o companheirismo destes desamparados. Gerando não somente união mas a força vitoriosa para superar situações sem saída. Para coroar esse conjunto de fatos nos quais nos identificamos há ainda o sacrifício pessoal para ajudar o outro. que é algo raro mas toda vez que o percebemos vemos o valor que tais atos trazem às situações. Vale muito a pipoca. Para saber mais sobre este filme eu escrevi este post (clique aqui para ver) abordando ele e outro bom filme de 2023.

8. Challengers (2024)Drama esportivo misturado com um triângulo amoroso misturado com a rivalidade de amigos que jogam tênis profissionalmente. Não há empate no tênis, logo para vencer num esporte de exigência física extrema é preciso muito foco, persistência e superação. Adicione a isto um triângulo amoroso com muitas idas e vindas então temos este filme. Pela competitividade, rivalidade e pelo tênis vale estar na lista.

9. The Substance (2024). O tempo é implacável mas pode levar uma volta se você usar uma substância que lhe dá 1 semana de vida em um corpo jovem. Ao final da semana é necessário alternar para o corpo original. Talvez daria certo se houvesse o uso equilibrado e correto da substância. Pense em ter uma semana maravilhosa seguida com uma semana terrível ? Óbvio que a semana terrível será de tal modo estressante e insuportável que sempre se quererá "esticar" a semana maravilhosa. Mas isto não está na premissa do contrato e toda semana esticada tem um alto preço. Daí é uma gestão de danos e emergências que escalam até o colapso e a vida continua. Vale pelo inusitado, pelo absurdo.

 
 Top 2 séries vistas em 2024
 
1. Foundation. Série de ficção científica baseada na obra de Isaac Asimov com 2 temporadas de 10 episódios cada - até agora. Foundation conta a história de um universo em que a humanidade domina as galáxias e o múltiplos povos que as habitam. Grandes avanços permitem tal domínio como velocidade de dobra,  naves espaciais, criogenia, inteligência artificial além de muitos meios de permitir a sobrevivência no universo que sempre procura te matar. Mas o mundo de Foundation não é de nenhum modo pacífico, há um domínio de ferro do Império que mata e destrói tudo e a todos sem o mínimo de escrúpulo, para tal o Império é mantido através da dinastia genética em que há sempre 3 imperadores - uma versão idosa, uma versão madura, uma versão jovem - e eles vão se substituindo ao longo do tempo. Porém matemáticos descobrem que o Império vai sucumbir a partir dessa predição sucedem-se crises e crises em que os diferentes núcleos tentam sobreviver.  

2. Shogun. Eu li a obra original de James Clavel na qual é baseada a série. Óbvio que a obra é muito melhor. Shogun teve somente uma temporada de 10 episódios até agora e não chegou até o ponto da obra original mas teve importantes desdobramentos como a morte de uma protagonistas. De modo que uma segunda temporada ficaria meio esvaziada. A série conta a história do piloto inglês Jack Blackthorne (interpretado por Cosmo Jarvis - que ao meu ver não foi bem no papel), que após muitas tempestades aporta no Japão com a tripulação enlouquecida pela fome e o escorbuto. O comércio com o Japão já era dominado pelos portugueses que são os inimigos de Blackthorne, inimigo comercial e religioso. Entretanto o senhor feudal que domina a região que Blackthorne aporta é Yoshii Toranaga, líder muito sagaz que vai usar Blackthorne e suas habilidades obter vantagens dos portugueses e vencer os demais senhores feudais. A série explora o Japão feudal, com suas peculiaridades, seu modo exótico de vida sobre a beleza, contemplação, violência e relações sociais.

sábado, 21 de novembro de 2020

Silver Linings Playbook - O Lado Bom da Vida - contém SPOILERS

De modo totalmente desavisado li ao livro "O lado bom da vida" de Matthew Quick publicado inicialmente em 2008. Como o título não me era muito estranho lembrei do filme homônimo lançado em 2012, estrelado por Bradley Cooper e Jennifer Lawrence. Descobri que o filme fora baseado na obra de Matthew Quick. A atriz Jennifer Lawrence amealhou o Oscar de melhor atriz em 2013 por sua atuação no filme.
 
Assim sendo resolvi assistir ao filme novamente depois de finalizar a leitura do livro e assim ter uma impressão comparativa "quentinha" sobre as obras.
 
Pois bem, o filme modifica em grande parte a obra de Matthew Quick. Óbvio que não tenho como saber se o autor concordou com as alterações. Os contratos de uso de obras variam grandemente e se o autor fica satisfeito com o que recebe não tem porquê se cansar com mutilações de sua obra. Na verdade no mercado editorial depois que a editora compra os direitos de publicação de uma obra, ela se torna praticamente coautora devido a tantas alterações que pode impor. Autores para se proteger do poder financeiro das editoras não aceitam tudo que é estabelecido no contrato e assim atualmente há vários modelos de publicação que vai desde aquele em que o autor assume todos os custos e toda a direção, divulgação, promoção e até mesmo as vendas dos livros deixando somente a impressão para a editora até o outro extremo em que a editora paga pelos direitos e controla todo o processo, restando ao autor comparecer em feiras especializadas e leituras em livrarias para grupos de interesse. Normalmente autores de renome aceitam o segundo modelo mas retém alguma autonomia sobre a obra e autores novos para verem seu primeiro livro publicado terminam viabilizando a publicação pelo primeiro modelo. 
 
A esses modelos veio a modernidade dos livros digitais e grandes editoras entre as quais destaco a maior delas - a Amazon - que oferece a edição, publicação, distribuição e venda de livros na sua plataforma. Para se vislumbrar um pouco das possibilidades, se você tiver um manuscrito devidamente diagramado seu livro estará em até 72 horas à venda em todas as lojas nacionais da Amazon via internet. É como uma tempestade de mudanças num mercado difícil que é o mercado editorial. Essas mudanças favoreceram que autores publiquem seus livros e assim a quantidade de livros publicados é crescente e o mercado consumidor... bem o mercado consumidor precisa ser fomentado. Para saber mais sobre isso, a veja os vídeos do canal "Projeto Escrita Criativa".

Mesmo com as mudanças, há obras que fazem sucesso e a obra de Quick é uma delas. Fez tanto sucesso que só 4 anos depois se tornou base para um filme que no ano seguinte é premiado com um Oscar e indicado em várias outras categorias. Isso é um grande sucesso.

Pois bem, se o filme foi bem nas bilheterias, premiado, grande sucesso, tenho que dizer que o livro é muito melhor e realmente vale a pena lê-lo. Na verdade os livros são sempre melhores que os filmes pelo simples fato de ter muito mais tempo e espaço para trabalhar o tema, personagens, narrativas, etc. Mas como o filme - Silver Linings Playbook é outra história, é diferente do que está no livro Silver Linings Playbook. 

As alterações se estendem do nome dos personagens aos eventos, das personalidades dos personagens a ordem dos acontecimentos. E nessa mistura há muita coisa que aparece e é comprimida no filme e não havia no livro e vice-versa. Não vou listar isso pois é muita coisa, vou me ater ao que acho mais importante - a personalidade de Pat Peoples.
 
Pat Peoples é um professor de história (34 anos) de uma escola secundária (um college) que está internado em uma instituição psiquiátrica em Baltimore depois de flagrar a esposa (Nikki) com um outro professor no banheiro de sua casa. Pat tem um surto psicótico tão forte que ataca o amante e o fere bastante. Para não ser condenado, aceita um acordo em que cede tudo o que tem, aceita também a ficar longe da esposa e tem que ficar internado. A esposa se separa à revelia e casa com outro. A internação dura 4 anos, mas Pat não retém a memória e para ele somente alguns meses se passaram, ele perdeu a memória pelo trauma. Pois bem Pat apesar do surto, de estar em lugar que ele define como o "lugar ruim", de querer genuinamente voltar para sua esposa, Pat é irritantemente otimista, ele muda totalmente seu modo de pensar e agir, rejeita toda ideia contrária ou que indique não retornar para sua esposa.
 
Sua mãe, Jeanie Peoples - a heroína da história na minha opinião - o retira do sanatório assumindo a responsabilidade por qualquer ato descontrolado do filho ainda com problemas, o coloca em sua casa a muito custo financeiro e pessoal. O pai de Pat é a antítese de mãe, não interage com os familiares, vive num mundo autocentrado e vê o filho como um doido de pedra. A família (menos a mãe) é torcedora fanática do time de futebol americano Philadelfia Eagles, essa fixação está presente no convívio família e é um forte catalisador social dos relacionamentos de Pat. Pat tem um irmão mais novo - Jake - que lamenta ter estado ausente no tempo em que ele ficou no "lugar ruim" mas se torna um importante apoio na recuperação de Pat.

Pat, apesar de eventualmente ter momentos de descontrole, de incerteza, de insegurança e impulsividade está fixamente focado em melhorar para retornar para sua esposa (no caso, ex-esposa) e para isso pratica exercícios diária e intensamente, tenta ser mais gentil do que estar certo. Procura interagir com as pessoas mas guardando seus reais pensamentos de cada momento com desconfiança e incerteza pois ele ainda vive à sombra do surto e da reserva, do preconceito de cada um que sabe que ele esteve internado por 4 anos. 
 
Outro fundamento para ser melhor marido é que Pat passa a ler os livros que Nikki ensinava, pois Nikki é professora de literatura. Pat lê e resenha as seguintes obras "Adeus às armas", de Ernest Hemingway, "A letra escarlate", de Nathaniel Hawthorne, "A redoma de vidro", de Sylvia Plath, "O apanhador no campo de centeio", de J.D. Salinger (eu fiz a resenha deste livro aqui neste link), "As Aventuras de Huckleberry Finn", de Mark Twain. Pat fica à beira de um colapso ao ler livros em que os autores conduzem a história para fins totalmente infelizes e sem sentido, pois Pat não consegue olhar para o céu nublado e não perceber que por trás o sol brilha intenso e soberano. Aqui neste link há a transcrição da resenha de Pat sobre o livro de Hemingway. 

E assim tentando reconstruir a vida destruída por um surto que lhe tirou 4 anos de vida e a autonomia e sustentado por esses fundamentos - a mãe, o irmão, o terapeuta (Dr. Patel), os amigos torcedores dos Eagles, a Invasão Asiática (grupo de indianos fanáticos pelos Eagles) e a aquela que lhe resgata - Tiffany. Tiffany é o outro lado da história, também problemática e quebrada. Tiffany perdeu o controle de sua vida quando o marido morreu atropelado. Assim essas duas pessoas lutando com seus traumas vão se ajudando, insistindo em uma relação difícil, meio ácida, meio rústica mas que conseguem ver o lado bom da vida. Pat consegue superar a ideia que o fez lutar contra tudo para melhorar (que é voltar para a ex-esposa) e passa a melhorar para si mesmo e para Tiffany.  

Meu parecer é que é um ótimo livro, com uma ótima mensagem. Não devemos desistir da vida só porque enxurradas pode nos arrastar e destruir as frágeis bases nas quais nos apoiamos, devemos ver que além do céu tenebroso, o sol brilha intenso e veremos sua luz por fim.

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Livros citados
"Adeus às armas", de Ernest Hemingway;
"A letra escarlate", de Nathaniel Hawthorne;
"A redoma de vidro", de Sylvia Plath;
"O apanhador no campo de centeio", de J.D. Salinger
"O lado bom da vida", de Matthew Quick